O ano era 2007, estávamos chegando de uma apresentação realizada na Fundação de Santo André. Na época da ocupação, dos protestos pedindo a saída do reitor. Eu gostaria de ressaltar que essa história é tão real quanto aquele momento em que você puxa as chaves da bolsa e caprichosamente vêm junto com elas as bolinhas tailandesas.
Pois bem, chegamos não eram 05:00 completas. A luz da casa de cima estava acesa e a dona da casa estava com a cabeça pra fora e os olhos esbugalhados, querendo nos alertar sobre o que mal sabia que poderia estar acontecendo. Ela só repetia: -"Acho que tem alguém aí, acho que tem alguém aí embaixo..."
Descemos com cuidado e a cena que se deu não dá nem pra chamar de real, mas de surreal:
Havia um homem sentado à soleira da porta, metade do corpo pra fora da casa, metade pra dentro. Usava uma cueca apenas, o restante de suas vestes misturaram-se com o resto do que sobrou dentro de casa. A cena é quase indizível. Cazuza tem uma música que diz: "mas ficou tudo fora do lugar..." e eu vos digo, café pequeno esse fora do lugar de Cazuza. Tudo estava revirado. A mesa da cozinha estava com os quatro pés para cima, o fogão também virado pra baixo. E era uma mistura tosca, nojenta de restos de feijão cozido, arroz, macarrão, caco de vidros (não ficou um só copo ou prato inteiros), roupas dos guarda roupas do quarto, garfo, colheres, facas, travesseiros, sapatos, tudo isso inundado pelo galão de 20 litros que fora jogado sobre tudo.
Respirei e entrei no quarto e lá o mesmo cenário se apresentava, portas de guarda roupas arrancadas, roupas todas pra fora, televisão virada com a tela pro chão, colchões fora do lugar.
Não sobrou quase nada que pudesse ser usado, a não ser as roupas depois de lavadas...
Tudo arrebentado, inacreditavelmente arrebentado.
O tal de cueca, não dizia nada, ou melhor, dizia que não sabia de nada. Os meninos que vierem conosco trazer a aparelhagem queriam bater no homem de cueca. Não deixamos. Estava muito bêbado, alterado, não estava em condições nem de apanhar o pobre diabo.
Chamamos então a polícia...Estava tudo tão inacreditável que eu achava que mais nada podia me acontecer, mas aconteceu. Um dos policiais estudou quase a vida toda comigo, desde a sexta série. E eles me perguntavam: existe alguém que não gosta de você? Algum desafeto? Respondi, deve haver muita gente, é claro, mas é secreto, nunca se apresentaram. E ali ficaram por algum tempo, tentando adivinhar como aconteceu tudo, desde o princípio. Eu conjecturava, vai ver é só um bêbado, que veio batendo a mão de portão em portão até que esse abriu (Eu não trancava o portão) e ele pode ter descido e tido um surto, algo assim...Não há como sabermos como começou, tampouco as razões, se é que existiu alguma.
Foi muita loucura pra uma noite só...
Ele não conseguia se explicar nem com os policiais.
E lá fomos nós pra delegacia. Ele já vestido, deixou para trás o tênis que ficara repleto de estilhaços com molho de macarrão.
Eu pedi uma indenização pequena diante do estrago, ele era ajudante de pedreiro e diante da juíza ele assinou, dizendo que o máximo que poderia pagar seria tanto em dez parcelas.
O homem da cueca não atrasou uma prestação sequer, para seguir em liberdade.
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar certo? Apois, em 2010 caiu.
Tive a casa invadida por outro bêbado, duas da madruga, eu amamentando meu filho com 22 dias. Ele bêbado e com um playstation na mão. Morador do prédio também. Acho que errou a porta devido a bebedeira, meu companheiro só viu quem era depois que ele foi parar no meio da sala com a voadora que ele deu de dentro do quarto. Ao menos esse estava vestido...
Após esses episódios nunca mais dormi de porta aberta. Verifico toda noite se a porta está mesmo trancada, sem manias, verifico uma vez e pronto...
Até hoje alguns amigos lembram desse dia e pedem: ah, conta aquela história do louco de cueca...
Então aí vai a história como ela se deu...
* E aos meus amigos bêbados, fiquem sabendo que as portas de casa estão abertas pra vocês todos! É só bater e trazer uma caixinha de cerveja pra fortalecer o rolê!*
quinta-feira, 19 de março de 2015
segunda-feira, 2 de março de 2015
O Bar do Zero à Zero
Hoje vou contar um período da minha vida em relação à música. Um período que veio muito antes do Bar do Zé Bosta. O momento exato em que decidi que era hora de tocar pra valer, assumir um lugar e encarar de verdade, com coragem por ser a primeira vez. Muito diferente das fogueiras da vida que me davam tanto prazer em tocar e estar com os amigos.
Eu precisava viver, pagar contas, criar dois filhos, enfim...tocar a vida. Minha amiguirmã, a Gi, veio morar junto comigo e me propôs uma parceria, uma dessas que a gente faz pela vida e que vai para além dela. Morando juntas nós ensaiávamos quase ou todos os dias, músicas que sempre tocavam nossos corações. sobretudo muito poéticas.
Chico, muito Chico na vida e na veia, Caetano, Raul, Gal, era tão variado o nosso gosto...até resgatamos a música de uma banda dos anos 80 chamada Sempre Livre, a música era Sou Free, um puta trocadilho.
Um amigo queridíssimo falou de nós no bar que ficava em frente à faculdade Metodista, no Rudge.
E lá fomos nós, sujando nomes pra comprar aparelhagem, pedindo carona pra sair do Jardim Represa pro Rudge Ramos, com a cara, a coragem, a aparelhagem no busão, o violão, os microfones, cabos, pedestais, enfim a caralhada toda de que precisávamos.
Tocávamos às quintas feiras e com o passar do tempo, os dias de quinta feira a aula de filosofia que a minha amiga e parceira precisava frequantar era feita no bar.
A sala toda de Filosofia descia para o bar ... nesse bar bebíamos e celebravámos a amizade, o amor, as loucuras, a poesia, os novos amigos, quem fez filosofia nessa época lembra como era foda!
Até os professores desciam pro bar. Uma vez ganhei um brinco lindo de um professor, professor Gutièrrrez, ele comprou da Kelly que é artesão-maluca e me presenteou... Nunca me esqueci, ele me presenteou também com o livro de poesias dele.
Durante um bom tempo tocamos ali, atendendo à pedidos musicais, afinal a galera da filosofia gostava do nosso repertório ainda revolucionário e poético!
Era tão bonito! A gente tocava com a fome da alma, a fome do coração, a vontade plena de ser feliz e fazer outros felizes por apenas um momento...que fosse!
Não posso deixar de mencionar o Garçon, que nos adorava, e era recíproco, tiramos tantas fotos com ele na época. Mal chegávamos pra montar a aparelhagem e lá vinha o Sr. Carlitos perguntar o que gostaríamos de beber. Sinto saudade de Carlitos, gostaria de vê-lo um dia. Era um encanto em pessoa. Demasiado humano, demasiado sensível pra sentir como se soubesse tudo que sentíamos...
Após algum tempo pedindo carona pra tocar os motoristas já nos conheciam e abriam as portas de trás para entrarmos com a caralhada de equipamentos.
Tantas foram as vezes que mesmo pegando carona a gente ia tocando dentro do busão, isso nos alegrava e era uma forma de bancar nossa passagem, com alegria naquilo que fazíamos.
E assim foi indo...até que um dia ela (a dona do bar) disse: quando o bar encher e render eu pago tanto, isso será proporcional.
Tudo bem! O bar sempre estava cheio. Então sempre teríamos um cachê pra receber...Tranquilo.
Em outra vez a dona pagou muito pouco e fomos reclamar, ele salientou os gastos com o papel higiênico que tinha com os frequentadores do bar.
Isso, mais uma vez doeu...muito!
Mas éramos tão corajosas que isso era pouco pra nos derrumbar, tanto pelo que adorávamos fazer, quando pela grana, que mal nos mantinha de pé, mas já era alguma coisa.
Até que chegou o dia em que fomos receber e ela nos disse na lata: - Meninas, hoje é zero à zero! E não nos deu nenhum centavo.
Voltamos frustradas, mas em nenhum momento pensamos em desistir, nem mesmo quando fomos pedir carona pro mesmo motorista que nos trouxe.
Ele (o motorista) perguntou: - ué, mas vocês não foram trabalhar? Dizemos : - fomos sim, mas hoje não recebemos nada! Ele muito gentil nos deu carona, voltamos pra casa, nunca mais pisamos no bar Zero à Zero...Não preciso citar o nome do bar, quem esteve lá, quem viveu isso, sabe do que estou falando. Voltamos pra casa cantando e tocando Raul Seixas, alegrando a vida de alguns trabalhadores, talvez tão infelizes quanto nós...Ou seja, guardamos nossa dor no bolso e voltamos tocando pra casa, sobre a dor e sobretudo com o desejo de não desistir nunca...mais forte que tudo!
Grata Zé Bosta! Grata Zero à Zero!
Hoje não me sinto distante do meu objetivo, por trabalhar na música com uma equipe na qual acredito e estou junto. Suindara Rock Sertão, música autoral, inspirada em literatura e amor!
O mundo precisa de amor, cada vez mais amor, poética, política, ideológica e socialmente falando!
E eu sou, eu sou, eu sou o amor...da cabeça aos pés!!!
Bora povo...com pressão...sempre!!!
Em breve mais um pouco desse percurso...beijos e grata à todos e todas!
Eu precisava viver, pagar contas, criar dois filhos, enfim...tocar a vida. Minha amiguirmã, a Gi, veio morar junto comigo e me propôs uma parceria, uma dessas que a gente faz pela vida e que vai para além dela. Morando juntas nós ensaiávamos quase ou todos os dias, músicas que sempre tocavam nossos corações. sobretudo muito poéticas.
Chico, muito Chico na vida e na veia, Caetano, Raul, Gal, era tão variado o nosso gosto...até resgatamos a música de uma banda dos anos 80 chamada Sempre Livre, a música era Sou Free, um puta trocadilho.
Um amigo queridíssimo falou de nós no bar que ficava em frente à faculdade Metodista, no Rudge.
E lá fomos nós, sujando nomes pra comprar aparelhagem, pedindo carona pra sair do Jardim Represa pro Rudge Ramos, com a cara, a coragem, a aparelhagem no busão, o violão, os microfones, cabos, pedestais, enfim a caralhada toda de que precisávamos.
Tocávamos às quintas feiras e com o passar do tempo, os dias de quinta feira a aula de filosofia que a minha amiga e parceira precisava frequantar era feita no bar.
A sala toda de Filosofia descia para o bar ... nesse bar bebíamos e celebravámos a amizade, o amor, as loucuras, a poesia, os novos amigos, quem fez filosofia nessa época lembra como era foda!
Até os professores desciam pro bar. Uma vez ganhei um brinco lindo de um professor, professor Gutièrrrez, ele comprou da Kelly que é artesão-maluca e me presenteou... Nunca me esqueci, ele me presenteou também com o livro de poesias dele.
Durante um bom tempo tocamos ali, atendendo à pedidos musicais, afinal a galera da filosofia gostava do nosso repertório ainda revolucionário e poético!
Era tão bonito! A gente tocava com a fome da alma, a fome do coração, a vontade plena de ser feliz e fazer outros felizes por apenas um momento...que fosse!
Não posso deixar de mencionar o Garçon, que nos adorava, e era recíproco, tiramos tantas fotos com ele na época. Mal chegávamos pra montar a aparelhagem e lá vinha o Sr. Carlitos perguntar o que gostaríamos de beber. Sinto saudade de Carlitos, gostaria de vê-lo um dia. Era um encanto em pessoa. Demasiado humano, demasiado sensível pra sentir como se soubesse tudo que sentíamos...
Após algum tempo pedindo carona pra tocar os motoristas já nos conheciam e abriam as portas de trás para entrarmos com a caralhada de equipamentos.
Tantas foram as vezes que mesmo pegando carona a gente ia tocando dentro do busão, isso nos alegrava e era uma forma de bancar nossa passagem, com alegria naquilo que fazíamos.
E assim foi indo...até que um dia ela (a dona do bar) disse: quando o bar encher e render eu pago tanto, isso será proporcional.
Tudo bem! O bar sempre estava cheio. Então sempre teríamos um cachê pra receber...Tranquilo.
Em outra vez a dona pagou muito pouco e fomos reclamar, ele salientou os gastos com o papel higiênico que tinha com os frequentadores do bar.
Isso, mais uma vez doeu...muito!
Mas éramos tão corajosas que isso era pouco pra nos derrumbar, tanto pelo que adorávamos fazer, quando pela grana, que mal nos mantinha de pé, mas já era alguma coisa.
Até que chegou o dia em que fomos receber e ela nos disse na lata: - Meninas, hoje é zero à zero! E não nos deu nenhum centavo.
Voltamos frustradas, mas em nenhum momento pensamos em desistir, nem mesmo quando fomos pedir carona pro mesmo motorista que nos trouxe.
Ele (o motorista) perguntou: - ué, mas vocês não foram trabalhar? Dizemos : - fomos sim, mas hoje não recebemos nada! Ele muito gentil nos deu carona, voltamos pra casa, nunca mais pisamos no bar Zero à Zero...Não preciso citar o nome do bar, quem esteve lá, quem viveu isso, sabe do que estou falando. Voltamos pra casa cantando e tocando Raul Seixas, alegrando a vida de alguns trabalhadores, talvez tão infelizes quanto nós...Ou seja, guardamos nossa dor no bolso e voltamos tocando pra casa, sobre a dor e sobretudo com o desejo de não desistir nunca...mais forte que tudo!
Grata Zé Bosta! Grata Zero à Zero!
Hoje não me sinto distante do meu objetivo, por trabalhar na música com uma equipe na qual acredito e estou junto. Suindara Rock Sertão, música autoral, inspirada em literatura e amor!
O mundo precisa de amor, cada vez mais amor, poética, política, ideológica e socialmente falando!
E eu sou, eu sou, eu sou o amor...da cabeça aos pés!!!
Bora povo...com pressão...sempre!!!
Em breve mais um pouco desse percurso...beijos e grata à todos e todas!