no dia 6 de fevereiro de 2010,
fui caminhando em busca de um balde —
aquele no qual eu banharia meu filhote que estava por vir.
Encontrei o João U-balde numa dessas lojinhas de tudo um pouco,
aqui mesmo, na quebrada.
Um balde verde, vistoso, transparente —
onde eu poderia ver o pequeno corpo da criança
banhando-se feliz.
Por muito tempo, observei meu menino crescendo e mergulhando em João.
Mesmo depois dos primeiros passos,
com o corpo franzino e cheio de vontade própria,
ele insistia em tomar banho ali,
com João, U-balde, por perto.
O tempo correu no rio da vida,
e João foi mudando —
como nós também.
Ganhou novas utilidades:
ajudou a passar pano na casa,
guardou panos brancos embebidos em cloro pra quarar,
segurou águas, segredos, e o silêncio do cotidiano.
Mas o vínculo verdadeiro começou
quando João passou a suportar minhas madrugadas —
felizes, porém de estômago revirado.
Tantas vezes, ao chegar,
eu passava na lavanderia,
pegava João e o levava até a beira da cama,
pra não ter que levantar caso passasse mal.
Poucas vezes isso aconteceu (risos)...
Mas João sempre esteve lá.
Por mais de cinco anos,
ele suportou tanta coisa:
corpo crescendo dentro de si,
água quente, fria, álcool, desinfetante,
e até alguns desabafos —
não tão publicáveis, tampouco poéticos.
Com o tempo, João U-balde começou a dar sinais de cansaço.
Foi-se lascando nas beiradas,
rachando por cima —
onde ainda não doía.
Até que um dia, deu o suspiro final:
rachou por baixo.
Não servia mais pra segurar água,
nem pra passar pano na casa.
Ele suspirou.
Eu, não.
Ainda insisti —
passei pano com ele um tempo mais,
colocando outro por baixo
pra segurar a água que vazava,
como quem tenta sustentar o que já se foi.
Mas um dia nem isso deu certo.
Hoje, levei João à lixeira —
com o coração tão partido quanto suas rachaduras.
Meu último gesto foi enchê-lo de sacolinhas,
que esperavam ansiosas pra também partir.
Nessas horas, bate um trem no peito,
um desalinho...
e a gente se confunde.
Já não sabe mais
quem é o objeto,
e quem é o sujeito.
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