sábado, 9 de maio de 2015

Adeus João U-balde Ribeiro!

Sentindo as dores do parto desde as oito da manhã,
no dia 6 de fevereiro de 2010,
fui caminhando em busca de um balde —
aquele no qual eu banharia meu filhote que estava por vir.

Encontrei o João U-balde numa dessas lojinhas de tudo um pouco,
aqui mesmo, na quebrada.
Um balde verde, vistoso, transparente —
onde eu poderia ver o pequeno corpo da criança
banhando-se feliz.

Por muito tempo, observei meu menino crescendo e mergulhando em João.
Mesmo depois dos primeiros passos,
com o corpo franzino e cheio de vontade própria,
ele insistia em tomar banho ali,
com João, U-balde, por perto.

O tempo correu no rio da vida,
e João foi mudando —
como nós também.

Ganhou novas utilidades:
ajudou a passar pano na casa,
guardou panos brancos embebidos em cloro pra quarar,
segurou águas, segredos, e o silêncio do cotidiano.

Mas o vínculo verdadeiro começou
quando João passou a suportar minhas madrugadas —
felizes, porém de estômago revirado.

Tantas vezes, ao chegar,
eu passava na lavanderia,
pegava João e o levava até a beira da cama,
pra não ter que levantar caso passasse mal.

Poucas vezes isso aconteceu (risos)...
Mas João sempre esteve lá.

Por mais de cinco anos,
ele suportou tanta coisa:
corpo crescendo dentro de si,
água quente, fria, álcool, desinfetante,
e até alguns desabafos —
não tão publicáveis, tampouco poéticos.

Com o tempo, João U-balde começou a dar sinais de cansaço.
Foi-se lascando nas beiradas,
rachando por cima —
onde ainda não doía.

Até que um dia, deu o suspiro final:
rachou por baixo.
Não servia mais pra segurar água,
nem pra passar pano na casa.

Ele suspirou.
Eu, não.

Ainda insisti —
passei pano com ele um tempo mais,
colocando outro por baixo
pra segurar a água que vazava,
como quem tenta sustentar o que já se foi.

Mas um dia nem isso deu certo.

Hoje, levei João à lixeira —
com o coração tão partido quanto suas rachaduras.
Meu último gesto foi enchê-lo de sacolinhas,
que esperavam ansiosas pra também partir.

Nessas horas, bate um trem no peito,
um desalinho...
e a gente se confunde.

Já não sabe mais
quem é o objeto,
e quem é o sujeito.

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