Ela chegou aqui de forma diferente das outras. Foi
encontrada no lixo, suja, abandonada, deixada na lixeira quando não possuía mais
a função de ser bela.
Acontece, que a reconheci e inesperadamente a resgatei.
Reconheci que sempre é possível nascer, renascer e até mesmo florescer.
Disseram-me que todo ano ela brota, ou reproduz ou
floresce...não sei bem o nome que se dá quando trata-se de tão distinta figura.
O que sei, é que depois que ela chegou meus dias não foram
mais os mesmos. Passei a habitar essa casa como quem habita uma estação de
trem. Alguém já viu uma pessoa habitando
uma estação de trem? Eu nunca presenciei, mas vivi como se eu fosse essa pessoa...
Todos os dias esperando o destino, o endereço certo pra mim,
o lugar pra onde eu poderia enfim encaminhar toda a angústia da espera.
Uma espera que eu esperava nela, na Outra, e não em mim.
E a dinâmica desse desejo contagiou a todos aqui nesse lugar
onde habito. Algumas vezes escutei frases do tipo:
- “e aí mãe, nada?!”...
Ou então:
“ainda não desistiu dela?”...Enquanto eu olhava para ela,
(embora sem compreensão do porquê),
cheia de desejo e espera.
À essa altura nossa relação não era mais segredo pra nenhum
dos passageiros dessa casa.
Havia esperança no enredo e só por isso ela não foi
abandonada. O que sustentou essa relação até hoje não foi apenas o desejo, mas
a certeza de que havia vida ali.
Mesmo quando eu resolvi desistir dela, mesmo quando eu
deixei de alimentá-la pensando que talvez eu pudesse estar a sufocando... Mesmo
assim, ela seguiu lá. E eu segui aqui.
Meses depois de ter parado de contemplá-la com o olhar do
simples e puro desejo, meses depois de praticamente eu ter desistido dela (como
até me havia sido recomendado) ela aparece magnífica, con(vida) e cor diferentes.
Enfim surgiu. Não o que eu esperava. O que eu esperava, era desejo meu. O que
surgiu, foi o desejo dela.
E dos galhos tortos e semi secos surgiu um galho novo,
inesperado, real, lindo e de um verde inimaginável!
Eu não desisti dela e ao que parece...ela não desistiu de
mim;
Orquídea véia! É nóis!!
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