Ela chegou aqui de forma diferente das outras.
Foi encontrada no lixo — suja, abandonada, deixada na lixeira quando já não tinha mais a função de ser bela.
Acontece que eu a reconheci.
E, inesperadamente, a resgatei.
Reconheci, nela, que sempre é possível nascer, renascer e — por que não? — florescer.
Disseram-me que, todo ano, ela brota, reproduz, floresce...
Não sei bem o nome que se dá quando se trata de uma figura tão distinta.
O que sei é que, depois que ela chegou, meus dias nunca mais foram os mesmos.
Passei a habitar esta casa como quem habita uma estação de trem.
Alguém já viu alguém morar numa estação de trem?
Eu nunca vi.
Mas vivi como se fosse essa pessoa —
todos os dias esperando o destino, o endereço certo pra mim,
o lugar onde eu pudesse, enfim, deixar descansar a angústia da espera.
Uma espera que eu esperava nela, na Outra — e não em mim.
A dinâmica desse desejo contagiou todos aqui.
Algumas vezes ouvi:
> “E aí, mãe, nada?”
“Ainda não desistiu dela?”
E eu seguia olhando pra ela, sem entender bem o porquê — cheia de desejo, e cheia de espera.
À essa altura, nossa relação já não era segredo pra ninguém nesta casa-estação.
Havia esperança no enredo,
e só por isso ela não foi abandonada.
O que sustentou essa relação não foi apenas o desejo —
foi a certeza silenciosa de que havia vida ali.
Mesmo quando resolvi desistir,
mesmo quando deixei de alimentá-la por medo de sufocar,
ela seguiu lá.
E eu segui aqui.
Meses depois de eu ter parado de contemplá-la,
meses depois de quase desistir —
ela reapareceu.
Magnífica.
Con(vida).
De cor diferente.
Floresceu.
Não o que eu esperava —
porque o que eu esperava era desejo meu.
O que surgiu foi o desejo dela.
E dos galhos tortos e semi-secos nasceu um galho novo,
inesperado, real, lindo —
de um verde inimaginável.
Eu não desisti dela.
E, ao que parece...
ela não desistiu de mim.
Orquídea véia! É nóis. 🌸
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