Na última quinta adiantamos o ensaio da banda, aproveitando o feriado pra deixar o domingo livre...Aqui em casa todos tinham saído, os filhos mais velhos foram pra casa do pai, o companheiro aproveitou para fazer horas-extras e eu fui trabalhar também (porque artista trabalha pra burro)...Fui com meu pequeno de 4 anos.
Na ida pegamos o metrô (a linha vermelha) lotado de torcedores ingleses, muito felizes, bebendo e gritando e batendo no teto do metrô, aquela algazarra feliz de torcida de futebol.
Meu pequeno me olhava e perguntava: mãe porque eles estão falando desse jeito? Eu disse: é a língua deles, eles falam inglês, não moram aqui no nosso país. E um senhor estrangeiro percebeu a curiosidade do pequeno e sorriu para ele e lhe acariciou os cabelinhos.
Descemos em Santa Cecília, ensaiamos, tudo lindo...
Na volta, nos encontramos com a torcida do Uruguai, muito mais feliz que a torcida da Inglaterra, afinal eles voltavam do jogo com o peito estufado pela vitória!
Meu pequeno queria de novo saber quem eram. Eu disse: são Uruguaios, eles falam espanhol, e os Uruguaios usavam perucas enormes em azul a branco, bandeiras enroladas no corpo, aquela festa!! E muitos davam "tchauzinhos" e sorrisos para o meu pequeno, que retribuía.
Até aqui tudo bem, tudo normal, certo?
Tudo certo, até que eu comecei a pensar sobre o comportamento de um brasileiro no metrô que me chamou a atenção deveras! Quando entramos no metrô, na volta, um brasileiro disse bem alto: Quero ver se toca violão!!!! Referindo-se a mim, que carregava um instrumento (que nem era violão) nas costas.
Possivelmente esse cara nunca andou de metrô na vida e olha eu fico feliz que ele tenha andado pela primeira vez! Possivelmente essa é a ideia que esse cara tem da arte... A arte (e o artista) para esse cara especificamente, deve se encontrar em outro lugar, nos espetáculos impagáveis do meu singelo ponto de vista econômico. É possível que ele pense que artista é aquela pessoa super bem sucedida que anda cercado de seguranças etc e tal... e artista que anda de metrô?
Teve um outro conterrâneo que perguntou ao pequeno qual era o instrumento que ele carregava...e ele respondeu todo orgulhoso disse: é uma escaleta, o senhor se sorriu e me perguntou se o que eu carregava era um violão e eu disse: não, é uma viola caipira.
Ele sorriu para mim...
Hoje um amigo postou uma frase aqui dizendo que não há nada mais pacífico que uma pessoa carregando um instrumento musical...
Eu penso, pacífico pra quem? Espero sinceramente, que pra todos nós.
Espero também que o artista e a arte não sejam vistos como algo fora do real de cada um, mas que se respeite toda a arte em toda parte! em qualquer língua e ocasião...Não só nos gols da vida, na pacificidade do ato de carregar um instrumento, mas sobretudo nas derrotas, nas lutas, nas dores, nas angústias e no gozo nosso de cada dia!
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