segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O episódio da máquina de lavar, a linguagem.

Após cinco anos funcionando em perfeito estado, minha máquina de lavar — comprada com uma vaquinha-à-prestação feita pela minha mãe, minha avó e meu pai — resolveu dar problema.

Há dois dias, me deparei com um cartão de visitas sobre o armário da cozinha, escrito:

> “Conserto de máquinas de lavar.”



Achei que fosse de algum conhecido do meu companheiro, ou talvez alguém tivesse deixado o cartão sob a porta e outro alguém, gentilmente, o colocara sobre o armário.

Resolvi não jogar fora — ainda.
Guardei num cantinho.
Aquele cantinho que, de pouco em pouco, toma conta do armário em pouquíssimo tempo.
Era só questão de tempo o cartão ir pro lixo...

Acontece que hoje, dois dias depois de encontrar o tal cartão, a máquina decidiu não funcionar.

Coloquei a roupa da semana toda — nesses tempos difíceis a gente só lava quando é estritamente necessário.
Coloquei sabão, amaciante, tudo certinho.
Liguei.
E nada!

A luz acendia, mas a água não entrava.
Fiz de tudo: abri e fechei mil vezes, dei umas porradas, tirei da tomada, religuei a torneira... nada.

Foi quando me lembrei do tal cartão misterioso — e aí bateu a paranoia!
Comecei a confabular que aquele cartão era de um sujeito que tinha entrado em casa, sabotado minha máquina e deixado o cartão como provocação.
Olha o nível da nóia!

Respirei fundo, recuperei um pouco de sanidade e decidi ligar para o “sabotador de máquinas de lavar alheias”.

— Sr. Fulano? Encontrei seu cartão aqui em casa, não sei como ele veio parar aqui... enfim, minha máquina quebrou. Está assim, assim, assado.

Ele respondeu, calmo:
— Hum... entendi. Mas tá saindo água?

— Não! A luz acende, mas a água não vem pra máquina.

— Hummm, entendi... me passa seu endereço.

Achei que ele fosse vir só no dia seguinte, ou na segunda-feira — tipo os técnicos de computador, que vêm só quando podem.

Mas não deu cinco minutos e o homem já estava na porta.
Aqui é quebrada — e na quebrada é assim!
(Isso, claro, não vale pros técnicos de computador.)

Ele entrou, olhou a máquina cheia de roupa, e eu — agoniada — atrás dele, tentando entender o problema quase junto com ele.
O desespero era grande.
Mas grande mesmo!

Na minha cabeça, passava um filme: eu lavando roupa de cinco pessoas na mão, sabão até o cotovelo, a vida desabando.
Era quase mais enlouquecedor que a própria paranoia.

Então o homem resolveu arrastar a máquina.
E eu, na maior inocência — misturada com desespero — soltei, sem pensar:

> — Moço, precisa tirar a roupa? Se precisar, eu tiro!



Chorei de rir por dentro.
Com a minha bobiça de linguagem.

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