Vamos lá.
Vejo pouca diferença entre Chico Buarque e Zezé Di Camargo e Luciano quando falam de amor.
É sério.
Os dois — cada um do seu lado do palco — cantam o mesmo enredo:
a dor, a falta, o vazio deixado pelo amor.
O que muda é o timbre, o cenário.
Mas quase sempre quem fala, mesmo quando é homem,
fala com voz de mulher.
É ela que sofre.
É ela que pede.
É ela que sente demais.
E eles — mesmo sendo poetas, compositores, cronistas do coração —
parecem apenas emprestar a boca pra essa voz feminina que a cultura autoriza sentir.
Mas me diga:
quantas vezes você ouviu um homem cantar, sem medo,
“meu peito está dilacerado”?
Poucas, né?
Porque o patriarcado até deixa o homem sentir —
mas não o deixa dizer.
Aí vem Sérgio Sampaio.
Louco, intenso, autêntico.
E fala o amor com a própria garganta.
Sem filtro, sem vergonha, sem pedir desculpa.
Fala do amor, da vida, da loucura,
como quem abre a camisa e o peito.
Sampaio é o homem que ousou chorar em voz alta,
rindo da própria dor.
Um desses malucos necessários que ainda me ensinam
que o amor precisa de coragem pra ser verbo.
E sabe onde mais o homem se permite sentir?
No futebol.
Sim, no futebol.
Ali eles se abraçam, se beijam, se empurram, se bagunçam —
choram como crianças
e gritam como quem foi salvo.
No campo, eles se tocam sem culpa.
No campo, eles são emoção pura.
O gol é a brecha da alma masculina.
É o momento em que o corpo diz o que o patriarcado censura.
E eu penso nos meus filhos.
Três.
Homens.
Ontem vi um deles ajoelhado, pedindo a mão da namorada.
Ninguém ensinou isso a ele.
Nem a mim coube essa aula.
Mas aprendeu, observando, que amor é coisa que se vive de peito aberto.
Não precisei dizer:
eles viram.
Sentiram.
Aprenderam que amar é pra ser amado com grandeza,
sem vergonha,
sem medo.
Amar é comemorar.
Como se cada abraço fosse um gol no jogo da vida.
E se for pra dizer que ama,
diga como Sérgio Sampaio:
com voz rouca, sincera, desarmada.
Que amar é mesmo coisa de doido —
mas é a doideira mais bonita que existe.
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