quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Psicopatologias

O que antes era graça
já não seduz mais.

Como cantou Nando Reis em Cegos do Castelo:

> “Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu.”



A paranoia —
que antes fazia rir, dançar,
ouvir Raul no último volume —
hoje não diverte.
Assusta.
No real da vida,
ela tem dentes.

Os delírios,
que tanto inspiraram a arte de escrever,
pela liberdade e pela febre da criação,
hoje são apenas sintoma.

A alucinação,
que um dia foi prazer —
doce, lúdica, colorida —
agora acovarda como fantasma de infância.
A mesma covardia de quem, criança,
se escondia sob o cobertor
pra não ver o que não era real.

Quebrada,
sem fraturas expostas —
fraturas mentais.
Elas doem,
latejam,
sangram,
sufocam.

Camus talvez tenha se aproximado
da palavra certa pra essa dor.
Em vez de depressão,
chamou de desespero.

E fez do suicídio
a questão filosófica mais urgente da humanidade.
(O Mito de Sísifo).

Freud, por sua vez,
disse que só se chega à análise
por dois caminhos:
o amor ou o trabalho.

Não sei como terminar.
Mas espero que termine bem.

(...)

O que antes era graça,
não encanta mais.

Como cantou Nando Reis em Cegos do Castelo:

> “Eu não enxergo mais o inferno que me atraiu.”



A paranoia que antes fazia rir
hoje assusta.
O delírio que antes criava
hoje consome.
A alucinação que antes libertava
hoje aprisiona.

Quebrada —
sem fraturas expostas —
as dores agora vivem no corpo.

Doem.
Latejam.
Sufocam.

Camus chamou de desespero.
Freud, talvez, de análise.
Eu, só de vida.
E ainda assim,
espero que termine bem.


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