E afinal, o que é o desejo?
Essa instituição invisível onde ninguém entra sem se perder.
Esse vazio que também é presença.
Desejo é o que falta —
mas é também o que pulsa, o que acende,
o que se mostra e se esconde no mesmo gesto.
É metáfora e matéria,
é quase toque, quase verbo, quase vida.
E quando o alcançamos,
ele já é outro.
Muda de forma, muda de cor,
escapa pelas frestas do real.
O real é o contrário do desejo.
O desejo é chama;
o real, cinza.
No instante em que o desejo se concretiza,
ele se desmancha —
vira outra substância,
menos brilhante,
menos febril.
Frágil, quase dócil,
como se perdesse a pele que o mantinha vivo.
Desejo é o que não cabe.
É o resto, a sobra,
o que ficou pela metade,
o que quase foi.
É o motor secreto das coisas,
a engrenagem que gira mesmo no escuro,
o fio que nos puxa pra frente,
mesmo quando tudo parece imóvel.
Você ama tudo que tem?
Ou ainda busca o que falta?
Talvez seja isso:
Desejo é o “algo mais” —
a eternidade do inacabado,
a fome que nos sustenta,
a falta que nos move.
Nenhum comentário:
Postar um comentário