Antes de começar a ler,
coloca Caetano pra tocar.
“Oração ao Tempo.”
Como eu fiz agora.
Deixa a melodia entrar devagar,
pra inspirar esta escrita que não sei se é oração, confissão ou delírio.
Tenho pensado que, no fim das contas,
o que mais tenho perdido na vida —
além das vontades —
é o tempo.
O preciosíssimo Tempo.
Senhor de todos os ritmos.
Tão bonito quanto o rosto do meu filho.
Não quero acordo com o Tempo.
Quero só meu tempo de volta.
Mas sei que não terei.
O que passou, passou.
A cada respiração,
a cada instante,
o tempo se vai —
é o aspecto mais indomável da vida.
Nada o interrompe,
a não ser o desejo.
E é aí que mora a briga.
Briga feia.
Briga de foice no escuro.
O Tempo passa,
leva tudo.
Mas o Desejo fica.
Prostrado, emburrado,
de mau humor,
esperando que o Tempo volte
pra lhe fazer as vontades.
E o que fazer?
Ou corremos com o Tempo,
com o Desejo no bolso,
ou adoecemos quando o Desejo empaca.
E o meu —
meu desejo —
está empacado.
Pesado como mula
diante do sofrimento.
Ou abandono o desejo pelo caminho,
ou enfio ele no bolso
e corro pra conquistar o tempo que me resta.
Mas como enfiar um desejo imenso no bolso,
latejando, pulsando?
Ainda não descobri.
Nem sei se é possível.
O que sei é que vou com ele.
Vou com esse desejo onde for.
E não perderei mais tempo desnecessário.
O perdido já foi.
O vivido também.
Mas o tempo que me resta —
esse é o que importa.
Vou correr com ele,
no meu próprio ritmo,
num tempo que não é cronológico,
mas lógico —
ou talvez ilógico,
meu tempo,
meu compasso.
Um tempo em que eu consiga me adequar,
se é que isso é possível.
---
🎶 E pra fechar
coloca “Passarinheiro” — Renato Braz.
Deixa a canção voar dentro de ti,
porque o tempo, às vezes, é isso:
um pássaro cansado que ainda acredita no vento.
Axé a todos.
Força, meu povo.
Sigamos —
cada um no seu tempo,
mas vivos.
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