sábado, 9 de maio de 2015

Adeus João U-balde Ribeiro!

Sentindo as dores do parto desde às 08:00 da manhã, do dia 06 de fevereiro de 2010, fui caminhando em busca de um balde, no qual eu banharia meu filhote que estava por vir.
Encontrei o João U-balde numa dessas lojinhas que vendem de tudo, aqui mesmo perto, na quebrada. Um balde verde, vistoso, transparente, onde eu poderia ver o pequeno corpo da criança à banhar-se.
E observei, por muito tempo, a criança crescendo e banhando-se em João, U-balde. Até mesmo após dar os primeiros passos, o corpo franzino, cheio de vontade própria, insistia em banhar-se com o balde por perto.
Mais tempo correu no rio da vida e João foi transformando-se, assim, como nós também.
Ganhou novas utilidades, me ajudou a passar pano na casa, guardou panos brancos embebidos em cloro pra quarar, coisas assim, cotidianas...
Mas o vínculo com João começou mesmo quando ele precisou suportar minhas madrugadas, felizes, porém com o estômago revirado...
Tantas vezes, chegava, passava na lavanderia e pegava João, U-balde, e o levava até à beira de minha cama, pra não ter que me levantar, caso passasse mal durante a noite.
Algumas poucas vezes isso aconteceu (risos)...
João foi paciente, por mais de cinco anos suportou tanta coisa: corpo crescendo dentro de si,  água quente, fria, alcool (pra limpeza), desinfetante, até mesmo alguns desabafos...não tão publicáveis, tampouco poéticos.
João, Ú-balde, começou a dar sinais de cansaço há algum tempo. Foi-se lascando suas beiradas, rachando um tanto, numa parte superior, donde a utilidade dele não interferia na tal rachadura.
Até que chegou o dia em que João deu o suspiro final...rachou embaixo...Não servia mais pra segurar a água, nem pra passar pano na casa. Ele suspirou, eu não. Passei pano na casa com ele por um bom período ainda, sempre com um pano por baixo pra segurar a água que vazava, desse forma não inundando a casa toda vez que ia limpar.
Até que nem eu mesma dei conta de tal lambança...Hoje, ainda aproveitei-me de João, pela derradeira vez. Ao levá-lo à lixeira, (com o coração tão partido quanto suas rachaduras) meu último gesto foi enchê-lo de sacolinhas, que esperavam ansiosas pra irem pra lixeira.
Nessas horas, bate uma trem dentro do peito e a gente se confunde, não sabe mais quem é objeto e quem é o Sujeito.