Escrever é delírio
Tantos poetas já o disseram.
Deliro porque preciso suportar a vida.
A palavra é como peça de xadrez no jogo da poesia.
Ora representa o imaginário, ora o simbólico.
Com ou sem nome-do-pai, se movimentam, se deslocam ou simplesmente se condensam.
Feito a metáfora e a metonímia.
No real da vida só o desejo insustentável habita.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
Canto da sereia
Canto pra você como um canto de sereia
Em busca de um peito-seguro, escutas
Teu incenso fez desabrochar a minha flor e fica preso às narinas cada vez que ascendo.
Toma meu sumo-suco de corpo-fruta-madura.
Come a Lótus úmida e orvalhada feito o capim, que é santo.
Não sou santa, quero você na minha teia, na minha veia, porque eu sim, te devoro.
Intimidade não é a língua é a linguagem, a metáfora.
Quero ver agora o que fará com o prato...vai lamber todo o resto ou jogar o verso fora?
Em busca de um peito-seguro, escutas
Teu incenso fez desabrochar a minha flor e fica preso às narinas cada vez que ascendo.
Toma meu sumo-suco de corpo-fruta-madura.
Come a Lótus úmida e orvalhada feito o capim, que é santo.
Não sou santa, quero você na minha teia, na minha veia, porque eu sim, te devoro.
Intimidade não é a língua é a linguagem, a metáfora.
Quero ver agora o que fará com o prato...vai lamber todo o resto ou jogar o verso fora?
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Sobre andar de moto (de carona)
Andar de moto de carona não é nada fácil, ora o piloto esquece que não está sozinho, ora estamos preocupados com o que está acontecendo à frente.
Nos primeiros dias foi cômico, em cima da 125 só me importava em não bater em nada pela frente, então viajava o caminho todo torta e dura. Cabeça pra fora do eixo da moto pra espiar o que acontecia pela frente e corpo também torto, porque depois de perder o eixo do corpo com a moto sentia medo de me ajeitar e isso causar acidente, algo assim.
Então lá eu ia toda tronxa e com câimbras nas pernas, bunda fora do banco e cabeça fora da moto.
Hoje, mais acostumada, às vezes ainda acontece, se carrego uma mochila pesada, por exemplo e o piloto passa com tudo pela lombada, tudo sai fora do lugar, e lá vai, mochila puxando pra um lado, bunda fora do centro, pernas com câimbras, só o que permanece no lugar é a cabeça. Ou você aprende a confiar no piloto ou vai de carona parecendo um saco de batatas com olhos arregalados.
Ainda há a opção de dirigir a propria moto, mas definitibamente não é pra mim.
E vamos em frente, sempre em busca do equilíbrio, confiando no piloto quando não é você quem pilota.
Nos primeiros dias foi cômico, em cima da 125 só me importava em não bater em nada pela frente, então viajava o caminho todo torta e dura. Cabeça pra fora do eixo da moto pra espiar o que acontecia pela frente e corpo também torto, porque depois de perder o eixo do corpo com a moto sentia medo de me ajeitar e isso causar acidente, algo assim.
Então lá eu ia toda tronxa e com câimbras nas pernas, bunda fora do banco e cabeça fora da moto.
Hoje, mais acostumada, às vezes ainda acontece, se carrego uma mochila pesada, por exemplo e o piloto passa com tudo pela lombada, tudo sai fora do lugar, e lá vai, mochila puxando pra um lado, bunda fora do centro, pernas com câimbras, só o que permanece no lugar é a cabeça. Ou você aprende a confiar no piloto ou vai de carona parecendo um saco de batatas com olhos arregalados.
Ainda há a opção de dirigir a propria moto, mas definitibamente não é pra mim.
E vamos em frente, sempre em busca do equilíbrio, confiando no piloto quando não é você quem pilota.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
NaCL(sal)
Há uma lenda, uma cultura que diz que só conhecemos de fato quem caminha ao nosso lado à medida em que dividimos com ela os kilos de sal vida afora.
Certa vez, durante uma "DR", cobrei meu companheiro a falta do compartilhamento com as coisas da casa.
Entre as frases efusivas e algumas contundentes eu dizia: "você sabe se temos óleo em casa, açucar, sal? E quanto temos?" e por aí foi...
Durante a peleja o Santiago escutava atento à discussão, ele tinha pouco mais de um ano de idade.
Certa vez, o pai foi repreendê-lo e ele foi mandando a letra sem pestanejar.
- "pai, vc compra sal? Vc nem compra sal e quer brigar comigo?"
Pois sim, o sal é mesmo muito importante nas relações, sobretudo na função paterna e materna também.
Certa vez, durante uma "DR", cobrei meu companheiro a falta do compartilhamento com as coisas da casa.
Entre as frases efusivas e algumas contundentes eu dizia: "você sabe se temos óleo em casa, açucar, sal? E quanto temos?" e por aí foi...
Durante a peleja o Santiago escutava atento à discussão, ele tinha pouco mais de um ano de idade.
Certa vez, o pai foi repreendê-lo e ele foi mandando a letra sem pestanejar.
- "pai, vc compra sal? Vc nem compra sal e quer brigar comigo?"
Pois sim, o sal é mesmo muito importante nas relações, sobretudo na função paterna e materna também.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Voa...mulher!
O mar é assim, um leva e trás constante
Enquanto essa pele segue seca e sedenta por teu olhar orvalhado e fértil
A esperança embrutece sentindo a fome-desejo desse corpo que anseia por seu olhar a mirar-me cheio de calor
A bruteza sulca a pele à espera dos beijos prometidos que talvez nunca virão para molhar e matar a sede e a fome dessa angústia de amor desesperançosa...
Teu sorriso é uma das raras lembranças que não secaram...contudo aos poucos vai secando no imaginário e dando outras formas ao teu conteúdo.
Vai mulher...voa beija flor, não espere mais pelos beijos se eles não trazem amor.
Vai mulher...voa beija flor, não deixe o tempo secar teus afetos, vá agora em busca de outra flor.
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Psicopatologias
O que antes era graça,
Não seduz mais.
Como cantou em "cegos do castelo", Nando Reis: "eu não enxergo mais o inferno que me atraiu"...
Paranóia que sempre fora motivo de risos e de ouvir Raul no último volume, dançar, cantar, hoje não faz rir, amedronta no real da vida.
O Delírios que tanto inspiraram a arte de escrever, pela criatividade e liberdade, hoje é apenas um Sintoma.
Alucinação então, nem se discute...quantas e quantas vezes desfrutada em doce deleite com o uso de substâncias recreativas, hoje acovarda como os fantasmas da infância, aquela covardia de se esconder sob o cobertor e fechar os olhos para não ver o irreal.
Quebrada, sem fraturas expostas, fraturas mentais, que se manifestam no corpo.
Doem,latejam,sangram, sufocam..
Albert Camus creio que chegou mais próximo da palavra que define essa dor. Ao invés de depressão, chamou de desespero.
E ainda colocou como a principal questão filosófica da humanidade o suicídio (no livro O Mito de Sísifo).
Freud por sua vez disse que só se chega à uma análise por dois viéses da vida: Amor ou Trabalho.
Não sei como terminar, mas espero que termine bem...
O que antes era graça, não encanta mais.
Como cantou em "cegos do castelo", Nando Reis: "eu não enxergo mais o inferno que me atraiu"...
Paranóia que sempre fora motivo de risos e de ouvir Raul no último volume, dançar, cantar, hoje não faz rir, amedronta no real da vida.
O Delírios que tanto inspiraram a arte de escrever, pela criatividade e liberdade, hoje é apenas um Sintoma.
Alucinação então, nem se discute...quantas e quantas vezes desfrutada em doce deleite com o uso de substâncias recreativas, hoje acovarda como os fantasmas da infância, aquela covardia de se esconder sob o cobertor e fechar os olhos para não ver o irreal.
Quebrada, sem fraturas expostas, fraturas mentais, que se manifestam no corpo.
Doem,latejam,sangram, sufocam..
Albert Camus creio que chegou mais próximo da palavra que define essa dor. Ao invés de depressão, chamou de desespero.
E ainda colocou como a principal questão filosófica da humanidade o suicídio (no livro O Mito de Sísifo).
Freud por sua vez disse que só se chega à uma análise por dois viéses da vida: Amor ou Trabalho.
Não sei como terminar, mas espero que termine bem...
Não seduz mais.
Como cantou em "cegos do castelo", Nando Reis: "eu não enxergo mais o inferno que me atraiu"...
Paranóia que sempre fora motivo de risos e de ouvir Raul no último volume, dançar, cantar, hoje não faz rir, amedronta no real da vida.
O Delírios que tanto inspiraram a arte de escrever, pela criatividade e liberdade, hoje é apenas um Sintoma.
Alucinação então, nem se discute...quantas e quantas vezes desfrutada em doce deleite com o uso de substâncias recreativas, hoje acovarda como os fantasmas da infância, aquela covardia de se esconder sob o cobertor e fechar os olhos para não ver o irreal.
Quebrada, sem fraturas expostas, fraturas mentais, que se manifestam no corpo.
Doem,latejam,sangram, sufocam..
Albert Camus creio que chegou mais próximo da palavra que define essa dor. Ao invés de depressão, chamou de desespero.
E ainda colocou como a principal questão filosófica da humanidade o suicídio (no livro O Mito de Sísifo).
Freud por sua vez disse que só se chega à uma análise por dois viéses da vida: Amor ou Trabalho.
Não sei como terminar, mas espero que termine bem...
O que antes era graça, não encanta mais.
Como cantou em "cegos do castelo", Nando Reis: "eu não enxergo mais o inferno que me atraiu"...
Paranóia que sempre fora motivo de risos e de ouvir Raul no último volume, dançar, cantar, hoje não faz rir, amedronta no real da vida.
O Delírios que tanto inspiraram a arte de escrever, pela criatividade e liberdade, hoje é apenas um Sintoma.
Alucinação então, nem se discute...quantas e quantas vezes desfrutada em doce deleite com o uso de substâncias recreativas, hoje acovarda como os fantasmas da infância, aquela covardia de se esconder sob o cobertor e fechar os olhos para não ver o irreal.
Quebrada, sem fraturas expostas, fraturas mentais, que se manifestam no corpo.
Doem,latejam,sangram, sufocam..
Albert Camus creio que chegou mais próximo da palavra que define essa dor. Ao invés de depressão, chamou de desespero.
E ainda colocou como a principal questão filosófica da humanidade o suicídio (no livro O Mito de Sísifo).
Freud por sua vez disse que só se chega à uma análise por dois viéses da vida: Amor ou Trabalho.
Não sei como terminar, mas espero que termine bem...
Cigano
As areias da praia
Trouxe um cigano pra mim
Cabelos hirsudos e desarmados
Tanto quanto seu coração
O olhar penetrou minhas entranhas
Fiquei sem jeito
Mas olhei de volta
Tentando decifrar o que diziam seus olhos
O som do mar se confundiam
Com sua voz
Já embriagada de desejo
Me apresentei nua
Desprovida de resistência para o amor e o sexo
Foi uma tarde diferente
Saíra pra caminhar e tomar uma cerveja
E me aparece esse moço
Bonito feito um cavalo de raça
Riso fácil conversa boa
E repleto de amor e desejo
Pra me transbordar da vida cotidiana
Fui sem medo, confiei no olhar e sorriso que pareciam dizer
Não foi o acaso minha pequena!
Os gestos de carinho e amizade me encantaram.
Saí sem saber se fora um sonho
Ou realidade pois a consciência latejava apenas oxitocina e ferormônios
Mistura pra deixar em êxtase toda e qualquer consciência
O mago da palavra fez feliz a fada urbana
E essa história continua, ainda depois de uma semana.
Não vou contar o tempo, tampouco os encontros
Mas fico cá comigo pensando no tal moço
Cigano do amor, sem paradeiro, vai beijando, flor por flor...
Só espero seu chamado pra lhe dar o meu amor
Enquanto ele não chama, eu preparo minha flor
Pra quando ele vir beijar
Que venha cheio de amor...
Trouxe um cigano pra mim
Cabelos hirsudos e desarmados
Tanto quanto seu coração
O olhar penetrou minhas entranhas
Fiquei sem jeito
Mas olhei de volta
Tentando decifrar o que diziam seus olhos
O som do mar se confundiam
Com sua voz
Já embriagada de desejo
Me apresentei nua
Desprovida de resistência para o amor e o sexo
Foi uma tarde diferente
Saíra pra caminhar e tomar uma cerveja
E me aparece esse moço
Bonito feito um cavalo de raça
Riso fácil conversa boa
E repleto de amor e desejo
Pra me transbordar da vida cotidiana
Fui sem medo, confiei no olhar e sorriso que pareciam dizer
Não foi o acaso minha pequena!
Os gestos de carinho e amizade me encantaram.
Saí sem saber se fora um sonho
Ou realidade pois a consciência latejava apenas oxitocina e ferormônios
Mistura pra deixar em êxtase toda e qualquer consciência
O mago da palavra fez feliz a fada urbana
E essa história continua, ainda depois de uma semana.
Não vou contar o tempo, tampouco os encontros
Mas fico cá comigo pensando no tal moço
Cigano do amor, sem paradeiro, vai beijando, flor por flor...
Só espero seu chamado pra lhe dar o meu amor
Enquanto ele não chama, eu preparo minha flor
Pra quando ele vir beijar
Que venha cheio de amor...
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Sobre a copa IIDidier Dogbá,um nome é muita coisa
Ontem durante o jogo Japão x Costa do Marfim, aconteceu o inesperado...
O Japão dominava a partida e vencia por 1 a 0. A Costa atacava sucessivamente... Sem sucesso.
A força e a resistência da Costa eram visivelmente maiores, expostas em belíssimos músculos que pareciam ter sido esculpidos aos corpos dos jogadores.
Mas não bastava para a conquista dos gols, não bastava para a conquista da virada.
Conquista que só veio com a evocação da palavra, de um nome: Didier Drogba!
O nome do jogo. Quando ele entrou, a torcida sem pudor algum virou a casaca e enlouquecida passou a gritar e torcer pela Costa.
O nome em campo fez a diferença, parecia que o jogo partiu pra outra esfera... A do imaginário.
A postura mudou; cabeças erguidas dentro do campo, procurando a melhor jogada, o companheiro de equipe, o passe e finalmente... O gol!
Ontem, Drogba não foi convocado... Ele foi evocado, como quando evocamos alguma palavra na espera que o nosso desejo seja atendido.
E assim foi...e me fez lembrar de uma Psicanalista que um dia me disse: um nome nunca é “só isso”, um nome já é muita coisa.
Se é!!!
O Japão dominava a partida e vencia por 1 a 0. A Costa atacava sucessivamente... Sem sucesso.
A força e a resistência da Costa eram visivelmente maiores, expostas em belíssimos músculos que pareciam ter sido esculpidos aos corpos dos jogadores.
Mas não bastava para a conquista dos gols, não bastava para a conquista da virada.
Conquista que só veio com a evocação da palavra, de um nome: Didier Drogba!
O nome do jogo. Quando ele entrou, a torcida sem pudor algum virou a casaca e enlouquecida passou a gritar e torcer pela Costa.
O nome em campo fez a diferença, parecia que o jogo partiu pra outra esfera... A do imaginário.
A postura mudou; cabeças erguidas dentro do campo, procurando a melhor jogada, o companheiro de equipe, o passe e finalmente... O gol!
Ontem, Drogba não foi convocado... Ele foi evocado, como quando evocamos alguma palavra na espera que o nosso desejo seja atendido.
E assim foi...e me fez lembrar de uma Psicanalista que um dia me disse: um nome nunca é “só isso”, um nome já é muita coisa.
Se é!!!
Durante a copa do mundo I
Na última quinta adiantamos o ensaio da banda, aproveitando o feriado pra deixar o domingo livre...Aqui em casa todos tinham saído, os filhos mais velhos foram pra casa do pai, o companheiro aproveitou para fazer horas-extras e eu fui trabalhar também (porque artista trabalha pra burro)...Fui com meu pequeno de 4 anos.
Na ida pegamos o metrô (a linha vermelha) lotado de torcedores ingleses, muito felizes, bebendo e gritando e batendo no teto do metrô, aquela algazarra feliz de torcida de futebol.
Meu pequeno me olhava e perguntava: mãe porque eles estão falando desse jeito? Eu disse: é a língua deles, eles falam inglês, não moram aqui no nosso país. E um senhor estrangeiro percebeu a curiosidade do pequeno e sorriu para ele e lhe acariciou os cabelinhos.
Descemos em Santa Cecília, ensaiamos, tudo lindo...
Na volta, nos encontramos com a torcida do Uruguai, muito mais feliz que a torcida da Inglaterra, afinal eles voltavam do jogo com o peito estufado pela vitória!
Meu pequeno queria de novo saber quem eram. Eu disse: são Uruguaios, eles falam espanhol, e os Uruguaios usavam perucas enormes em azul a branco, bandeiras enroladas no corpo, aquela festa!! E muitos davam "tchauzinhos" e sorrisos para o meu pequeno, que retribuía.
Até aqui tudo bem, tudo normal, certo?
Tudo certo, até que eu comecei a pensar sobre o comportamento de um brasileiro no metrô que me chamou a atenção deveras! Quando entramos no metrô, na volta, um brasileiro disse bem alto: Quero ver se toca violão!!!! Referindo-se a mim, que carregava um instrumento (que nem era violão) nas costas.
Possivelmente esse cara nunca andou de metrô na vida e olha eu fico feliz que ele tenha andado pela primeira vez! Possivelmente essa é a ideia que esse cara tem da arte... A arte (e o artista) para esse cara especificamente, deve se encontrar em outro lugar, nos espetáculos impagáveis do meu singelo ponto de vista econômico. É possível que ele pense que artista é aquela pessoa super bem sucedida que anda cercado de seguranças etc e tal... e artista que anda de metrô?
Teve um outro conterrâneo que perguntou ao pequeno qual era o instrumento que ele carregava...e ele respondeu todo orgulhoso disse: é uma escaleta, o senhor se sorriu e me perguntou se o que eu carregava era um violão e eu disse: não, é uma viola caipira.
Ele sorriu para mim...
Hoje um amigo postou uma frase aqui dizendo que não há nada mais pacífico que uma pessoa carregando um instrumento musical...
Eu penso, pacífico pra quem? Espero sinceramente, que pra todos nós.
Espero também que o artista e a arte não sejam vistos como algo fora do real de cada um, mas que se respeite toda a arte em toda parte! em qualquer língua e ocasião...Não só nos gols da vida, na pacificidade do ato de carregar um instrumento, mas sobretudo nas derrotas, nas lutas, nas dores, nas angústias e no gozo nosso de cada dia!
Na ida pegamos o metrô (a linha vermelha) lotado de torcedores ingleses, muito felizes, bebendo e gritando e batendo no teto do metrô, aquela algazarra feliz de torcida de futebol.
Meu pequeno me olhava e perguntava: mãe porque eles estão falando desse jeito? Eu disse: é a língua deles, eles falam inglês, não moram aqui no nosso país. E um senhor estrangeiro percebeu a curiosidade do pequeno e sorriu para ele e lhe acariciou os cabelinhos.
Descemos em Santa Cecília, ensaiamos, tudo lindo...
Na volta, nos encontramos com a torcida do Uruguai, muito mais feliz que a torcida da Inglaterra, afinal eles voltavam do jogo com o peito estufado pela vitória!
Meu pequeno queria de novo saber quem eram. Eu disse: são Uruguaios, eles falam espanhol, e os Uruguaios usavam perucas enormes em azul a branco, bandeiras enroladas no corpo, aquela festa!! E muitos davam "tchauzinhos" e sorrisos para o meu pequeno, que retribuía.
Até aqui tudo bem, tudo normal, certo?
Tudo certo, até que eu comecei a pensar sobre o comportamento de um brasileiro no metrô que me chamou a atenção deveras! Quando entramos no metrô, na volta, um brasileiro disse bem alto: Quero ver se toca violão!!!! Referindo-se a mim, que carregava um instrumento (que nem era violão) nas costas.
Possivelmente esse cara nunca andou de metrô na vida e olha eu fico feliz que ele tenha andado pela primeira vez! Possivelmente essa é a ideia que esse cara tem da arte... A arte (e o artista) para esse cara especificamente, deve se encontrar em outro lugar, nos espetáculos impagáveis do meu singelo ponto de vista econômico. É possível que ele pense que artista é aquela pessoa super bem sucedida que anda cercado de seguranças etc e tal... e artista que anda de metrô?
Teve um outro conterrâneo que perguntou ao pequeno qual era o instrumento que ele carregava...e ele respondeu todo orgulhoso disse: é uma escaleta, o senhor se sorriu e me perguntou se o que eu carregava era um violão e eu disse: não, é uma viola caipira.
Ele sorriu para mim...
Hoje um amigo postou uma frase aqui dizendo que não há nada mais pacífico que uma pessoa carregando um instrumento musical...
Eu penso, pacífico pra quem? Espero sinceramente, que pra todos nós.
Espero também que o artista e a arte não sejam vistos como algo fora do real de cada um, mas que se respeite toda a arte em toda parte! em qualquer língua e ocasião...Não só nos gols da vida, na pacificidade do ato de carregar um instrumento, mas sobretudo nas derrotas, nas lutas, nas dores, nas angústias e no gozo nosso de cada dia!
Preciso gritar gol!
Eu preciso gritar gol!
Preciso gritar gol quando é copa do mundo e consigo ver a luta de muitos povos em campo...
Preciso gritar gol por passar a semana trabalhando enterrada em problemas da comunidade que vive uma realidade dura, tantas vezes tão dura quanto a minha.
Preciso gritar gol...é meu momento de catarse e não é só o meu.
É o grito de tanta gente. É o grito de tantos discursos... O grito do povo oprimido na favela e outros mais...
O grito dos discursantes do busão, que para minha tristeza algumas vezes discursam como “coxinhas”. Para minha tristeza, porque existe nada mais triste na vida do que um discurso-coxinha dentro do busão, no beco da favela, isso me assusta muito. Ser coxinha, hoje, não é mais um des-mérito da classe média!
Isso acontece, eu acredito, porque existem muitos discursos hoje em dia, dois deles especialmente me incomodam...o da mídia, especialmente a mídia televisiva e manipuladora e o discurso de algumas páginas das redes sociais. Só através dessas mídias podemos reconhecer um coxinha nos becos da favela.
Não critico o beco da favela, mas me pergunto o que leva essas pessoas acreditarem na mídia. Ela me parece tão frágil às vezes (a mídia), pode ser mero romantismo, mas poxa vida...se cada um pensasse sobre tudo que vive e sobre tudo que passa na sua vida e fora dela, talvez pudessem ser diferentes as relações também.
Com menos preconceitos sobre as aparências uns dos outros, com menos preconceito sobre tudo que a tal mídia tenta nos enfiar goela abaixo. Porque ainda que ela esteja falando sobre preconceito e realidade social, tenta nos enfiar gola abaixo coisas que todos nós conhecemos no real da vida! TODOS NÓS!!!
Eu fico contente quando vejo algum amigo gritando em letras maiúsculas: Vai Argélia! Vai Costa Rica! Dale Uruguai! Vai Costa do Marfim! Gana!
Sei que estão dizendo muito mais que isso...Desejam muito mais que gol! Desejam justiça social, desejam igualdade, fim da opressão e respeito dos direitos para todos.
É só por isso que eu grito GOL
Preciso gritar gol por passar a semana trabalhando enterrada em problemas da comunidade que vive uma realidade dura, tantas vezes tão dura quanto a minha.
Preciso gritar gol...é meu momento de catarse e não é só o meu.
É o grito de tanta gente. É o grito de tantos discursos... O grito do povo oprimido na favela e outros mais...
O grito dos discursantes do busão, que para minha tristeza algumas vezes discursam como “coxinhas”. Para minha tristeza, porque existe nada mais triste na vida do que um discurso-coxinha dentro do busão, no beco da favela, isso me assusta muito. Ser coxinha, hoje, não é mais um des-mérito da classe média!
Isso acontece, eu acredito, porque existem muitos discursos hoje em dia, dois deles especialmente me incomodam...o da mídia, especialmente a mídia televisiva e manipuladora e o discurso de algumas páginas das redes sociais. Só através dessas mídias podemos reconhecer um coxinha nos becos da favela.
Não critico o beco da favela, mas me pergunto o que leva essas pessoas acreditarem na mídia. Ela me parece tão frágil às vezes (a mídia), pode ser mero romantismo, mas poxa vida...se cada um pensasse sobre tudo que vive e sobre tudo que passa na sua vida e fora dela, talvez pudessem ser diferentes as relações também.
Com menos preconceitos sobre as aparências uns dos outros, com menos preconceito sobre tudo que a tal mídia tenta nos enfiar goela abaixo. Porque ainda que ela esteja falando sobre preconceito e realidade social, tenta nos enfiar gola abaixo coisas que todos nós conhecemos no real da vida! TODOS NÓS!!!
Eu fico contente quando vejo algum amigo gritando em letras maiúsculas: Vai Argélia! Vai Costa Rica! Dale Uruguai! Vai Costa do Marfim! Gana!
Sei que estão dizendo muito mais que isso...Desejam muito mais que gol! Desejam justiça social, desejam igualdade, fim da opressão e respeito dos direitos para todos.
É só por isso que eu grito GOL
Primeiro dia de aula
Ainda trago na memória, muito claro, meu primeiro dia na escola. Na primeira série, o nome da professora era Ariane.
Eu observava com um olhar tímido meus futuros-novos-amigos e todo aquele mundo repleto de novidades.
Sobre as mesas de meus colegas haviam lancheiras escalafobéticas e estojos multicoloridos, dos quais saiam a todo momento objetos pequenos e igualmente multicoloridos, uma variedade imensa de lápis, apontadores, borrachas, etc...
A certa altura a professora começou a chamar os nomes dos alunos.
- Fulano de tal!
E fulano de tal respondia:
- Presente!
E ela seguia chamando.
Isso me causou certa angústia, a qualquer momento ela poderia chamar também o meu nome.
E foi isso que aconteceu!
Ela chamou, uma, duas, três vezes o meu nome. E eu permaneci quieta, pensando comigo: _"e agora? que faço?"
Ela perguntou então: - quem é Rosana?
Eu respondi: - sou eu!
Ela perguntou:
- Porque você não diz "presente?"
Eu disse a ela: - porque eu não trouxe!!!
Eu pensava que todos aqueles objetos que as crianças traziam eram presentes para a professora!
A professora muito carinhosamente me explicou o que significava dizer "presente"!
Fiquei mais tranquila em poder aprender isso!
E a vida segue assim, todo dia é um dia de aprendizado! Todo dia podemos aprender uma coisa nova, uma nova palavra, uma música nova, ter um novo amigo, a vida está aí cheia de encantamento todo o tempo!!!
Eu só quis contar pra vocês!
Eu observava com um olhar tímido meus futuros-novos-amigos e todo aquele mundo repleto de novidades.
Sobre as mesas de meus colegas haviam lancheiras escalafobéticas e estojos multicoloridos, dos quais saiam a todo momento objetos pequenos e igualmente multicoloridos, uma variedade imensa de lápis, apontadores, borrachas, etc...
A certa altura a professora começou a chamar os nomes dos alunos.
- Fulano de tal!
E fulano de tal respondia:
- Presente!
E ela seguia chamando.
Isso me causou certa angústia, a qualquer momento ela poderia chamar também o meu nome.
E foi isso que aconteceu!
Ela chamou, uma, duas, três vezes o meu nome. E eu permaneci quieta, pensando comigo: _"e agora? que faço?"
Ela perguntou então: - quem é Rosana?
Eu respondi: - sou eu!
Ela perguntou:
- Porque você não diz "presente?"
Eu disse a ela: - porque eu não trouxe!!!
Eu pensava que todos aqueles objetos que as crianças traziam eram presentes para a professora!
A professora muito carinhosamente me explicou o que significava dizer "presente"!
Fiquei mais tranquila em poder aprender isso!
E a vida segue assim, todo dia é um dia de aprendizado! Todo dia podemos aprender uma coisa nova, uma nova palavra, uma música nova, ter um novo amigo, a vida está aí cheia de encantamento todo o tempo!!!
Eu só quis contar pra vocês!
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
O episódio da máquina de lavar, a linguagem.
Após cinco anos funcionando em perfeito estado, minha máquina de lavar, comprada com uma vaquinha-à-prestação por minha mãe, minha avó e meu pai, resolveu dar problemas...
Há dois dias, me deparei com um cartão de visitas sobre o armário da cozinha, escrito "conserto máquinas de lavar".
Achei que pudesse ser de algum conhecido do meu companheiro ou até mesmo de alguém que pudesse ter deixado sob a porta e um outro alguém teve a delicadeza de botar sobre o armário.
Resolvi não deitar fora, ainda. Guardei num cantinho, aquele cantinho que de pouco em pouco toma conta do armário em pouquíssimo tempo.
Então, era apenas uma questão de tempo mesmo, o cartão ir pro lixo...
Acontece que hoje, dois dias depois de eu ter encontrado o tal cartão, a máquina decidiu não funcionar.
Coloquei a roupa da semana toda, nesses tempos difíceis em que vivemos é preciso lavar roupa uma vez por semana; somente se for muito necessário...Coloquei sabão e tudo mais...Liguei e nada! A luz acendia, mas a água não tava abastecendo.
Fiz tudo o que eu pude! Abri e fechei inúmeras vezes, dei porrada, tirei da tomada, desliguei e liguei a torneira...e nada!
Até que eu me lembrei do tal cartão misterioso e aí bateu a paranóia!! Comecei a confabular que aquele cartão era de um cara que havia entrado em casa e sabotado a máquina e deixado o cartão...Olha o nível da nóia!!!
Após respirar profundamente por alguns minutos, procurando a calma há alguns instantes perdida, retomei a consciência e decidi ligar pro tal sabotador de máquinas de lavar alheias...
Sr. Fulano, encontrei seu cartão aqui em casa, não sei como veio parar aqui e tal...enfim, minha máquina quebrou Sr. Fulano. Está assim, assim, assado...E ele:
-Hum...entendi! E seguiu: mas tá saindo água?
Eu: não! a luz acende, mas a água não vem pra máquina...
Ele: hummmm, entendi, me fala seu endereço...
Eu estava pensando que ele viria só amanhã, ou na segunda feira, sei lá...tipos os caras que consertam o computador, que vêm SÓ quando podem.
Não deu 5 minutos o Sr. Fulano estava na porta. Aqui é quebrada e na quebrada é assim! (isso não vale pros Srs. consertadores de computador)...
Ele entrou, olhou a máquina cheia de roupa já...e eu agoniada atrás dele, tentando descobrir praticamente junto com ele qual era o problema.
O desespero era grande, mas era muito grande mesmo! E tudo passando na minha cabeça, seu eu tivesse que lavar roupa de 5 pessoas (na mão), e tudo mais...Eu estava ainda mais enlouquecida do que no momento da paranóia!
Daí o homem resolveu arrastar a máquina...e eu na maior inocência (misturada com desespero) soltei, sem pensar:
- Moço, precisa tirar a roupa? Se precisar, eu tiro!
Chorei de rir internamente...com a minha bobiça de linguagem!
Há dois dias, me deparei com um cartão de visitas sobre o armário da cozinha, escrito "conserto máquinas de lavar".
Achei que pudesse ser de algum conhecido do meu companheiro ou até mesmo de alguém que pudesse ter deixado sob a porta e um outro alguém teve a delicadeza de botar sobre o armário.
Resolvi não deitar fora, ainda. Guardei num cantinho, aquele cantinho que de pouco em pouco toma conta do armário em pouquíssimo tempo.
Então, era apenas uma questão de tempo mesmo, o cartão ir pro lixo...
Acontece que hoje, dois dias depois de eu ter encontrado o tal cartão, a máquina decidiu não funcionar.
Coloquei a roupa da semana toda, nesses tempos difíceis em que vivemos é preciso lavar roupa uma vez por semana; somente se for muito necessário...Coloquei sabão e tudo mais...Liguei e nada! A luz acendia, mas a água não tava abastecendo.
Fiz tudo o que eu pude! Abri e fechei inúmeras vezes, dei porrada, tirei da tomada, desliguei e liguei a torneira...e nada!
Até que eu me lembrei do tal cartão misterioso e aí bateu a paranóia!! Comecei a confabular que aquele cartão era de um cara que havia entrado em casa e sabotado a máquina e deixado o cartão...Olha o nível da nóia!!!
Após respirar profundamente por alguns minutos, procurando a calma há alguns instantes perdida, retomei a consciência e decidi ligar pro tal sabotador de máquinas de lavar alheias...
Sr. Fulano, encontrei seu cartão aqui em casa, não sei como veio parar aqui e tal...enfim, minha máquina quebrou Sr. Fulano. Está assim, assim, assado...E ele:
-Hum...entendi! E seguiu: mas tá saindo água?
Eu: não! a luz acende, mas a água não vem pra máquina...
Ele: hummmm, entendi, me fala seu endereço...
Eu estava pensando que ele viria só amanhã, ou na segunda feira, sei lá...tipos os caras que consertam o computador, que vêm SÓ quando podem.
Não deu 5 minutos o Sr. Fulano estava na porta. Aqui é quebrada e na quebrada é assim! (isso não vale pros Srs. consertadores de computador)...
Ele entrou, olhou a máquina cheia de roupa já...e eu agoniada atrás dele, tentando descobrir praticamente junto com ele qual era o problema.
O desespero era grande, mas era muito grande mesmo! E tudo passando na minha cabeça, seu eu tivesse que lavar roupa de 5 pessoas (na mão), e tudo mais...Eu estava ainda mais enlouquecida do que no momento da paranóia!
Daí o homem resolveu arrastar a máquina...e eu na maior inocência (misturada com desespero) soltei, sem pensar:
- Moço, precisa tirar a roupa? Se precisar, eu tiro!
Chorei de rir internamente...com a minha bobiça de linguagem!
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Poema engavetado
Poema engavetado...
Fome de quê guardam teus úmidos lábios morenos?
Que vontades sua pele carrega sob essa camisa?
No seu corpo faço língua meu desejo-fome
O olhar que mira, como quem mira estrelas,
Desperta-me a sede
Quero chuva!
Fome de quê guardam teus úmidos lábios morenos?
Que vontades sua pele carrega sob essa camisa?
No seu corpo faço língua meu desejo-fome
O olhar que mira, como quem mira estrelas,
Desperta-me a sede
Quero chuva!
sábado, 27 de junho de 2015
Maçãs podres, avante!
Maçã Podre...
Quando eu tinha 13 anos fui chamada pela diretora da escola
de “maçã podre”...Quando estava calor eu usava shorts e não era uma menina bem
vista, por usar tal vestimenta. Tantas vezes levei advertência, tantas outras fui obrigada à voltar pra casa,
sem assistir aula e com calor.
Algumas vezes eu ia pra casa mesmo, noutras eu ia pra bica e
me refrescava enquanto dava o horário de terminar a aula. Não! eu não estava
matando aula, minha aula já havia sido morta bem antes de eu estar na bica,
foram assassinadas quando não pude entrar na escola, a aula e a dignidade.
Por muito pouco não fui expulsa da escola, sob o argumento
da “maçã podre”...
Com o passar de poucos anos minhas vestimentas e meu corpo se
transformaram e ganharam a não-cor e o não-formato de alguém não-satisfeito,
com o mundo e com a vida.
Passei a usar roupas muito maiores do que meu pequeno corpo
aceitava. Às vezes sujas, outras, rasgadas. Rasguei também os cabelos, usando o
mínimo que eu poderia suportar na cabeça.
Ainda assim rasgada para com o mundo, dilacerada pelo
convívio com o “normal”, ainda assim eu desenvolvi um amor imenso pela leitura.
Amor esse que foi despertado por uma professora de Português. Ela era tão
detestada quanto eu na escola. Não pelas roupas ou a falta delas. Era negra,
mulher simples, quase acanhada! Mas ela me causava um fascínio tão grande, que
tudo que ela indicava eu lia. Eu queria o amor daquela mulher, daquela professora
que ninguém gostava...Nesse tempo eu já carregava vinho ao invés de suco na
minha lancheira.
Esta foi a escola que mais tempo eu permaneci, nunca soube
criar raízes, foram tantas escolas que não couberam todas no histórico escolar.
Mais de 8 escolas. Numa vida escolar em média de 11 a 12 anos, é bastante coisa.
Essas mudanças aconteciam por conta do trabalho do meu pai,
operário, operador de máquina de terraplenagem. Íamos à todos cantos que haviam
estradas para construir, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso. Onde as empresas
iam construir estradas, a família toda ia.
Por isso nunca tive lugar... Nenhum lugar eu cabia, tampouco
cabia em mim. Nem no Mato Grosso, com um bando de crianças vizinhas tão
perdidas quanto eu, com seus pais operários-nômades, tanto quanto o meu.
Pelo mesmo motivo tive que aprender a me adaptar à todo e
qualquer lugar, mesmo sentindo que não era meu-lugar. E se fosse, poderia
acabar tudo, assim, no próximo mês...
Esse período morando no Pantanal Mato-grossense foi
inexplicavelmente um dos mais importantes e ricos da minha vida. Alí, fui
proibida de freqüentar a catequese, pois ainda não sabia ler. Me causou muita
frustração! Sempre eu tinha ouvido que deus castigava e que ele via tudo que eu
estava fazendo, etc e tal. Eu só queria conhecer esse cara, a catequese (ao
menos eu acreditava) seria a porta, seria o único meio de conhecer esse cara e
ver qual era a dele, se era mesmo tudo aquilo de medo que eu tinha, ou não...
Não foi possível, não pude freqüentar mesmo a tal da
catequese. Pensei comigo, vou aprender a ler e vou conhecer deus e ele vai
gostar de mim um dia. E depois que eu aprender a ler, ele não vai mais me
perseguir, nem ficar me olhando no banheiro, nem sabendo de tudo que eu penso...
Eu não sabia que existia uma idade pra freqüentar a tal da
catequese. No fim das contas, parti do Pantanal, somente com a lembrança das
cobras no caminho da escola, debaixo do sol forte;
Desisti definitivamente de deus assim que comecei a
desfrutar dos prazeres do meu corpo. Como poderia ser proibida tamanha sensação
que meu corpo poderia me dar, por ele, o tal deus? Definitivamente, aos 12 anos
eu só queria conhecer a aproveitar dos prazeres do meu corpo.
E assim segui, conhecendo meu corpo e deixando que outros e
outras o conhecessem também. Saboreando todas as formas de delícias que eu
podia suportar.
E a vida seguiu assim, fui aos poucos lendo o mundo, lendo
as pessoas e até hoje sigo assim, lendo o tempo todo...
Leio o que acontece à minha volta, lendo a cada um que eu
conheço, lendo para outras pessoas, ensinando outras pessoas (Não a ler), mas a
gostarem de ler. Sigo despertando paixões vida afora, sigo despertando o desejo
pela vida, não só pela leitura, mas pelo amor, pelo corpo, prelo prazer...Sigo
contaminando cada um que eu puder contaminar.
E que a contaminação não seja palavra excluída e que não
tenha um cunho negativo sempre...
Depende de com o quê
nos contaminamos!
Sim, eu devia ser uma maçã podre, desde aqueles tempos!
Contaminando outras maçãs, iguais ou diferentes de mim...à procura de um lugar,
onde pudesse existir, como maçã (podre ou não)ou como mulher, como pessoa, como
humano que encontra o seu lugar! Mesmo que esse lugar seja lugar nenhum.
Mesmo que esse lugar nunca exista! Não abandonemos o desejo
da busca! Avante maçãs podres!!
Orquídeas...
Ela chegou aqui de forma diferente das outras. Foi
encontrada no lixo, suja, abandonada, deixada na lixeira quando não possuía mais
a função de ser bela.
Acontece, que a reconheci e inesperadamente a resgatei.
Reconheci que sempre é possível nascer, renascer e até mesmo florescer.
Disseram-me que todo ano ela brota, ou reproduz ou
floresce...não sei bem o nome que se dá quando trata-se de tão distinta figura.
O que sei, é que depois que ela chegou meus dias não foram
mais os mesmos. Passei a habitar essa casa como quem habita uma estação de
trem. Alguém já viu uma pessoa habitando
uma estação de trem? Eu nunca presenciei, mas vivi como se eu fosse essa pessoa...
Todos os dias esperando o destino, o endereço certo pra mim,
o lugar pra onde eu poderia enfim encaminhar toda a angústia da espera.
Uma espera que eu esperava nela, na Outra, e não em mim.
E a dinâmica desse desejo contagiou a todos aqui nesse lugar
onde habito. Algumas vezes escutei frases do tipo:
- “e aí mãe, nada?!”...
Ou então:
“ainda não desistiu dela?”...Enquanto eu olhava para ela,
(embora sem compreensão do porquê),
cheia de desejo e espera.
À essa altura nossa relação não era mais segredo pra nenhum
dos passageiros dessa casa.
Havia esperança no enredo e só por isso ela não foi
abandonada. O que sustentou essa relação até hoje não foi apenas o desejo, mas
a certeza de que havia vida ali.
Mesmo quando eu resolvi desistir dela, mesmo quando eu
deixei de alimentá-la pensando que talvez eu pudesse estar a sufocando... Mesmo
assim, ela seguiu lá. E eu segui aqui.
Meses depois de ter parado de contemplá-la com o olhar do
simples e puro desejo, meses depois de praticamente eu ter desistido dela (como
até me havia sido recomendado) ela aparece magnífica, con(vida) e cor diferentes.
Enfim surgiu. Não o que eu esperava. O que eu esperava, era desejo meu. O que
surgiu, foi o desejo dela.
E dos galhos tortos e semi secos surgiu um galho novo,
inesperado, real, lindo e de um verde inimaginável!
Eu não desisti dela e ao que parece...ela não desistiu de
mim;
Orquídea véia! É nóis!!
A transa porvir...
O imaginário se
alimenta desse desejo
como quem lambe delicadamente uma trufa de
chocolate derretida
Lambuza-se na
sensação do gozo incomensurável...
A troca efêmera de
cheiros, sabores, calor e umidades
A medida da sua
dureza nas minhas profundezas.
A ânsia pelo
encaixe perfeito e profundo
O coito,
interrompido, barrado, cortado, não-gozado, não-explodido, não-ejaculado,
Segue latente e
latindo...separado por aquele minuto preciso entre o real e a fantasia.
O manifesto nas
palavras.
Freud disse: o
sonho é a realização dos desejos.
Será mesmo? Tenho
sonhado o mesmo real, meu gozo habita no quereres,
E não o devo à
ninguém.
O Beco
Ah...se
te pego no beco!
Te decoro inteiro com a boca...
No beco a boca vai ser pouca.
E a ânsia será louca!
Menino malvado, escorregadio.
Se te pego no beco
Te faço vadio!
Te conto em segredos
Que estão escondidos
Conto em sussurros
Ora suave
Ora agressivo
Ora suspense
Silêncio sombrio...
No beco a boca vai ser pouca.
E a ânsia será louca!
Menino malvado, escorregadio.
Se te pego no beco
Te faço vadio!
Te conto em segredos
Que estão escondidos
Conto em sussurros
Ora suave
Ora agressivo
Ora suspense
Silêncio sombrio...
Lua no mar
Lua
no mar, eu na sua.
Corpo no mar, pele nua.
Lua na pele, molhada, nua.
Cheiro de mar na pele tua.
Língua na lua do céu da boca.
Boca de mar na pele tua.
Gosto de lua, molhada, nua.
Na pele de mar, na boca tua.
Cheiro de nua, brilhando de mar, debaixo da lua.
Pele na pele, boca molhada, no pêlo, na pele.
Hoje sou tua...mas sou como a lua.
Corpo no mar, pele nua.
Lua na pele, molhada, nua.
Cheiro de mar na pele tua.
Língua na lua do céu da boca.
Boca de mar na pele tua.
Gosto de lua, molhada, nua.
Na pele de mar, na boca tua.
Cheiro de nua, brilhando de mar, debaixo da lua.
Pele na pele, boca molhada, no pêlo, na pele.
Hoje sou tua...mas sou como a lua.
Mulher Maluca
Vida de mulher maluca
Doida varrida, forte, aguerrida
Verdadeira mulher da vida!
Enquanto prepara o jantar
Põe o filho pra banhar e
A máquina pra lavar.
Num momento de tormento
Quase não me atento
No feijão, prestes a queimar.
Em pleno desespero
Abro a panela correndo
E começo a berrar:
- Venham cá meninos! Vejam só que confusão!
- Me digam vocês três, onde está o feijão?!
Entre risos e desatinos,
Chega o mais pequenininho
E com certa expressão
De quem sente a diversão
Me diz todo sorrindo,
Cheio de sensatez
Que pro jantar de hoje
Vai faltar só lucidez!
E feijão...
Sobre o sábado de aleluia
Não tenho religião, tampouco acredito em nada...nem
em mim!
Passei muito tempo, quando criança, temendo e temendo e temendo
Nem sei bem o quê!
Sei que sexta feira santa em casa, não se penteava nem os cabelos
Coisas típicas e cotidianas, como escovar os dentes ou varrer a casa
era como uma profanação
Palavrão então...nem pensar! Sé loco tio (como dizem hoje em dia)
Ninguém podia realizar nenhum ato que não fosse respirar e chorar o dia todo...
eu achava tudo muito triste, mas parecia que tinha que ser assim...
Nunca entendi bem o porquê, nada era explicado, tipo Chicó (auto da compadecida)...só sei que foi assim...
Daí, passava a sexta feira nessa agonia e quando chegava o sábado de aleluia tudo o que eu esperava era me desintegrar...
não queria existir para sentir e saber o que estava me esperando...
Sábado de aleluia! só de escutar me dava um nó! Dava, porque hoje em dia não dá mais.
Sábado de aleluia era o dia da libertação...Mas não da nossa!
Redenção, libertação do pai que passava um dia inteiro sem pronunciar sequer uma palavra em tom mais alto, sem brigar com a gente seja por qual motivo fosse, libertação da raiva contida, talvez por nossa subversiva infância...(porque apesar de todo o pesar da sexta feira, a gente sabia que nada iria nos atingir), ao menos na sexta não!
E nessas do tal sábado de aleluia a gente passava o dia todo apanhando, era de varinha, cinta, chinelo, o que estivesse pela frente...e sem motivo algum!
Simplesmente era anunciado: "vamos tirar a aleluia" e o coro comia!
Sem razão, sem causa! Era assim e pronto e acabou.
Eu sentia medo de passar perto do meu pai nesse dia...
E até me tornar adulta e me deparar com um livro do Mario Vargas Llosa, eu acreditava que meu pai era doido...
Só depois dessa leitura (pantaleão e as visitadoras) é que entendi que não era só meu pai que era maluco...isso existe em outras culturas! Segundo a cultura peruana, no caso do escritor Llosa, essa prática servia à libertar as crianças dos maus espíritos.
Não sei bem o que meu pai queria com isso... Só sei que não era comigo...e se era, sinto muito papai, não funcionou!
Passei muito tempo, quando criança, temendo e temendo e temendo
Nem sei bem o quê!
Sei que sexta feira santa em casa, não se penteava nem os cabelos
Coisas típicas e cotidianas, como escovar os dentes ou varrer a casa
era como uma profanação
Palavrão então...nem pensar! Sé loco tio (como dizem hoje em dia)
Ninguém podia realizar nenhum ato que não fosse respirar e chorar o dia todo...
eu achava tudo muito triste, mas parecia que tinha que ser assim...
Nunca entendi bem o porquê, nada era explicado, tipo Chicó (auto da compadecida)...só sei que foi assim...
Daí, passava a sexta feira nessa agonia e quando chegava o sábado de aleluia tudo o que eu esperava era me desintegrar...
não queria existir para sentir e saber o que estava me esperando...
Sábado de aleluia! só de escutar me dava um nó! Dava, porque hoje em dia não dá mais.
Sábado de aleluia era o dia da libertação...Mas não da nossa!
Redenção, libertação do pai que passava um dia inteiro sem pronunciar sequer uma palavra em tom mais alto, sem brigar com a gente seja por qual motivo fosse, libertação da raiva contida, talvez por nossa subversiva infância...(porque apesar de todo o pesar da sexta feira, a gente sabia que nada iria nos atingir), ao menos na sexta não!
E nessas do tal sábado de aleluia a gente passava o dia todo apanhando, era de varinha, cinta, chinelo, o que estivesse pela frente...e sem motivo algum!
Simplesmente era anunciado: "vamos tirar a aleluia" e o coro comia!
Sem razão, sem causa! Era assim e pronto e acabou.
Eu sentia medo de passar perto do meu pai nesse dia...
E até me tornar adulta e me deparar com um livro do Mario Vargas Llosa, eu acreditava que meu pai era doido...
Só depois dessa leitura (pantaleão e as visitadoras) é que entendi que não era só meu pai que era maluco...isso existe em outras culturas! Segundo a cultura peruana, no caso do escritor Llosa, essa prática servia à libertar as crianças dos maus espíritos.
Não sei bem o que meu pai queria com isso... Só sei que não era comigo...e se era, sinto muito papai, não funcionou!
Terenas
Filha de operário,
vida de viajante
Na infância, pequena nômade
De muitas paragens, das tantas moradas e inúmeros amigos
Poucos deixaram tanta saudade
Quanto os Terenas mirins
Saudade do quintal, tão perto do pantanal...
O caminho da escola era longo
O sol nos rachava a moringa, que
Logo se refrescava à margem do rio Miranda...
Correr com índio e macaco era tudo que eu queria
Era tudo que eu esperava.
Quando chegava tal dia,
Juntava os amigos da vila e o mato atravessava
Até que a aldeia alcançava
Catar coquinho, chupar manga, era a maior alegria
Brincadeira de criança, só vale se tem fantasia
Às vezes a gente fugia, fugia, corria o dia inteiro,
Em busca de um paradeiro que a nós transformaria
Quem chegasse lá primeiro, onde nasce o colorido
Recebia o seu prêmio: menina virava menino e guri virava guria...
O desejo não engana, e pensando na mudança
Virar menino não era, o que a mim me bastaria
Mas eu tinha esperança, na ideia de criança
Que completando a andança: um índio eu viraria!
Na infância, pequena nômade
De muitas paragens, das tantas moradas e inúmeros amigos
Poucos deixaram tanta saudade
Quanto os Terenas mirins
Saudade do quintal, tão perto do pantanal...
O caminho da escola era longo
O sol nos rachava a moringa, que
Logo se refrescava à margem do rio Miranda...
Correr com índio e macaco era tudo que eu queria
Era tudo que eu esperava.
Quando chegava tal dia,
Juntava os amigos da vila e o mato atravessava
Até que a aldeia alcançava
Catar coquinho, chupar manga, era a maior alegria
Brincadeira de criança, só vale se tem fantasia
Às vezes a gente fugia, fugia, corria o dia inteiro,
Em busca de um paradeiro que a nós transformaria
Quem chegasse lá primeiro, onde nasce o colorido
Recebia o seu prêmio: menina virava menino e guri virava guria...
O desejo não engana, e pensando na mudança
Virar menino não era, o que a mim me bastaria
Mas eu tinha esperança, na ideia de criança
Que completando a andança: um índio eu viraria!
O dentista alienista
- Abra a boca!
- Não posso, tenho uma bala!
- Cuspa e abra!
- Não posso, está alojada!
- Abra e veremos...Sua boca não está escovada...
- Mas como poderia? Tenho uma bala alojada.
- Para você, só há uma solução, não importa a bala alojada,
tampouco se é doce ou não...
No seu caso, não há remédio, bom seria a escovação,
mas na sua condição, devido à bala alojada, por sua imaginação,
você está condenado: a ser medicalizado, por não ser cuidadoso, por viver abandonado, por não dar conta dos dentes você será trancado, guardado, trancafiado, eu decreto de hoje em diante, seu caso é de internação!
- Não posso, tenho uma bala!
- Cuspa e abra!
- Não posso, está alojada!
- Abra e veremos...Sua boca não está escovada...
- Mas como poderia? Tenho uma bala alojada.
- Para você, só há uma solução, não importa a bala alojada,
tampouco se é doce ou não...
No seu caso, não há remédio, bom seria a escovação,
mas na sua condição, devido à bala alojada, por sua imaginação,
você está condenado: a ser medicalizado, por não ser cuidadoso, por viver abandonado, por não dar conta dos dentes você será trancado, guardado, trancafiado, eu decreto de hoje em diante, seu caso é de internação!
sábado, 9 de maio de 2015
Adeus João U-balde Ribeiro!
Sentindo as dores do parto desde às 08:00 da manhã, do dia 06 de fevereiro de 2010, fui caminhando em busca de um balde, no qual eu banharia meu filhote que estava por vir.
Encontrei o João U-balde numa dessas lojinhas que vendem de tudo, aqui mesmo perto, na quebrada. Um balde verde, vistoso, transparente, onde eu poderia ver o pequeno corpo da criança à banhar-se.
E observei, por muito tempo, a criança crescendo e banhando-se em João, U-balde. Até mesmo após dar os primeiros passos, o corpo franzino, cheio de vontade própria, insistia em banhar-se com o balde por perto.
Mais tempo correu no rio da vida e João foi transformando-se, assim, como nós também.
Ganhou novas utilidades, me ajudou a passar pano na casa, guardou panos brancos embebidos em cloro pra quarar, coisas assim, cotidianas...
Mas o vínculo com João começou mesmo quando ele precisou suportar minhas madrugadas, felizes, porém com o estômago revirado...
Tantas vezes, chegava, passava na lavanderia e pegava João, U-balde, e o levava até à beira de minha cama, pra não ter que me levantar, caso passasse mal durante a noite.
Algumas poucas vezes isso aconteceu (risos)...
João foi paciente, por mais de cinco anos suportou tanta coisa: corpo crescendo dentro de si, água quente, fria, alcool (pra limpeza), desinfetante, até mesmo alguns desabafos...não tão publicáveis, tampouco poéticos.
João, Ú-balde, começou a dar sinais de cansaço há algum tempo. Foi-se lascando suas beiradas, rachando um tanto, numa parte superior, donde a utilidade dele não interferia na tal rachadura.
Até que chegou o dia em que João deu o suspiro final...rachou embaixo...Não servia mais pra segurar a água, nem pra passar pano na casa. Ele suspirou, eu não. Passei pano na casa com ele por um bom período ainda, sempre com um pano por baixo pra segurar a água que vazava, desse forma não inundando a casa toda vez que ia limpar.
Até que nem eu mesma dei conta de tal lambança...Hoje, ainda aproveitei-me de João, pela derradeira vez. Ao levá-lo à lixeira, (com o coração tão partido quanto suas rachaduras) meu último gesto foi enchê-lo de sacolinhas, que esperavam ansiosas pra irem pra lixeira.
Nessas horas, bate uma trem dentro do peito e a gente se confunde, não sabe mais quem é objeto e quem é o Sujeito.
Encontrei o João U-balde numa dessas lojinhas que vendem de tudo, aqui mesmo perto, na quebrada. Um balde verde, vistoso, transparente, onde eu poderia ver o pequeno corpo da criança à banhar-se.
E observei, por muito tempo, a criança crescendo e banhando-se em João, U-balde. Até mesmo após dar os primeiros passos, o corpo franzino, cheio de vontade própria, insistia em banhar-se com o balde por perto.
Mais tempo correu no rio da vida e João foi transformando-se, assim, como nós também.
Ganhou novas utilidades, me ajudou a passar pano na casa, guardou panos brancos embebidos em cloro pra quarar, coisas assim, cotidianas...
Mas o vínculo com João começou mesmo quando ele precisou suportar minhas madrugadas, felizes, porém com o estômago revirado...
Tantas vezes, chegava, passava na lavanderia e pegava João, U-balde, e o levava até à beira de minha cama, pra não ter que me levantar, caso passasse mal durante a noite.
Algumas poucas vezes isso aconteceu (risos)...
João foi paciente, por mais de cinco anos suportou tanta coisa: corpo crescendo dentro de si, água quente, fria, alcool (pra limpeza), desinfetante, até mesmo alguns desabafos...não tão publicáveis, tampouco poéticos.
João, Ú-balde, começou a dar sinais de cansaço há algum tempo. Foi-se lascando suas beiradas, rachando um tanto, numa parte superior, donde a utilidade dele não interferia na tal rachadura.
Até que chegou o dia em que João deu o suspiro final...rachou embaixo...Não servia mais pra segurar a água, nem pra passar pano na casa. Ele suspirou, eu não. Passei pano na casa com ele por um bom período ainda, sempre com um pano por baixo pra segurar a água que vazava, desse forma não inundando a casa toda vez que ia limpar.
Até que nem eu mesma dei conta de tal lambança...Hoje, ainda aproveitei-me de João, pela derradeira vez. Ao levá-lo à lixeira, (com o coração tão partido quanto suas rachaduras) meu último gesto foi enchê-lo de sacolinhas, que esperavam ansiosas pra irem pra lixeira.
Nessas horas, bate uma trem dentro do peito e a gente se confunde, não sabe mais quem é objeto e quem é o Sujeito.
sábado, 18 de abril de 2015
A vida que transborda...
Naquele domingo ela permitiu que seu corpo levantasse um pouco mais adiante do tempo dantes acostumado, mesmo com as visitas em casa, ela se permitiu, sem culpa.
Levantou-se e foi preparar o café, ritual arboreal e contínuo, quase automático de todas as manhãs, mesmo não sendo tão cedo.
E como haveria de preparar mais café do que de costume, pois haviam mais pessoas na casa, o pó úmido e preto, muito cheiroso, transbordou. Transbordou como há muito tempo não ousava deixar transbordar. Derramou-se sobre a pia um misto de cheiro e sabor quente inacreditavelmente suaves e sem culpa.
Transbordou, assim... como às vezes as coisas da vida saem do controle e transbordam também.
A menina transbordara dias antes, ao menos essa foi a descoberta feita em sua análise...
Mas ela não conseguia sentir culpa por esse transbordamento da vida, do sentimento, das paixões, emoções, enfim...
A culpa não acompanhava a estrutura do sentir, do dar sentido às coisas.
A menina sentia e pronto. Só soubera que transbordava após a sessão de análise.
Mesmo assim não se importou, a menina segue transbordando na vida, dor, paixão, tesão, desejo, vontades.
Só o desejo não transborda, porque é traiçoeiro, escorregadio...
A menina não o alcança, nunca, jamais...não o alcança, não o toca, nem cheira, nem nada...Desejo é palavra feito diamante, indestrutível, forte, firme...e segue intocável.
Desejo é coisa que anda no bolso do outro. A menina sabe que está lá, mas não ousa pedir, tocar, cheirar, pois assim como a mosca da sopa, você mata uma e vem outra em seu lugar. Assim é o desejo, feito mosca na sopa.
Visível, porém, intocável...
E assim, a menina viveu a semana, o dia, depois outro dia e mais um e outro ainda...E se deu conta de um botão, vermelho, astuto, pregado à consciência chamado FODA-SE!
Depois que aprendeu a apertar tal botão do "pânico" boa parte dos problemas imaginários e cotidianos, diluiram-se!
Hoje a menina dança, ela ainda dança dentro da roda da vida, conhecendo os limites cada vez mais e tomando consciência desse botão precioso...o botão libertador de culpas, o botão libertador de sintomas, (que nem são da menina), o botão do gozo da vida!
E sempre que for preciso, a menina sabe onde fica o botão!
De agora p´ra diante é assim ou deverá ser, sentiu? transbordou? Caso de emergência?
Botão do foda-se!!!
Boa sorte à tudu mundu...conheçam o botão, cada um tem o seu! e todos são lindos!
Sugestão musical: mosca na sopa, é claro!
Levantou-se e foi preparar o café, ritual arboreal e contínuo, quase automático de todas as manhãs, mesmo não sendo tão cedo.
E como haveria de preparar mais café do que de costume, pois haviam mais pessoas na casa, o pó úmido e preto, muito cheiroso, transbordou. Transbordou como há muito tempo não ousava deixar transbordar. Derramou-se sobre a pia um misto de cheiro e sabor quente inacreditavelmente suaves e sem culpa.
Transbordou, assim... como às vezes as coisas da vida saem do controle e transbordam também.
A menina transbordara dias antes, ao menos essa foi a descoberta feita em sua análise...
Mas ela não conseguia sentir culpa por esse transbordamento da vida, do sentimento, das paixões, emoções, enfim...
A culpa não acompanhava a estrutura do sentir, do dar sentido às coisas.
A menina sentia e pronto. Só soubera que transbordava após a sessão de análise.
Mesmo assim não se importou, a menina segue transbordando na vida, dor, paixão, tesão, desejo, vontades.
Só o desejo não transborda, porque é traiçoeiro, escorregadio...
A menina não o alcança, nunca, jamais...não o alcança, não o toca, nem cheira, nem nada...Desejo é palavra feito diamante, indestrutível, forte, firme...e segue intocável.
Desejo é coisa que anda no bolso do outro. A menina sabe que está lá, mas não ousa pedir, tocar, cheirar, pois assim como a mosca da sopa, você mata uma e vem outra em seu lugar. Assim é o desejo, feito mosca na sopa.
Visível, porém, intocável...
E assim, a menina viveu a semana, o dia, depois outro dia e mais um e outro ainda...E se deu conta de um botão, vermelho, astuto, pregado à consciência chamado FODA-SE!
Depois que aprendeu a apertar tal botão do "pânico" boa parte dos problemas imaginários e cotidianos, diluiram-se!
Hoje a menina dança, ela ainda dança dentro da roda da vida, conhecendo os limites cada vez mais e tomando consciência desse botão precioso...o botão libertador de culpas, o botão libertador de sintomas, (que nem são da menina), o botão do gozo da vida!
E sempre que for preciso, a menina sabe onde fica o botão!
De agora p´ra diante é assim ou deverá ser, sentiu? transbordou? Caso de emergência?
Botão do foda-se!!!
Boa sorte à tudu mundu...conheçam o botão, cada um tem o seu! e todos são lindos!
Sugestão musical: mosca na sopa, é claro!
quinta-feira, 19 de março de 2015
O louco de cueca
O ano era 2007, estávamos chegando de uma apresentação realizada na Fundação de Santo André. Na época da ocupação, dos protestos pedindo a saída do reitor. Eu gostaria de ressaltar que essa história é tão real quanto aquele momento em que você puxa as chaves da bolsa e caprichosamente vêm junto com elas as bolinhas tailandesas.
Pois bem, chegamos não eram 05:00 completas. A luz da casa de cima estava acesa e a dona da casa estava com a cabeça pra fora e os olhos esbugalhados, querendo nos alertar sobre o que mal sabia que poderia estar acontecendo. Ela só repetia: -"Acho que tem alguém aí, acho que tem alguém aí embaixo..."
Descemos com cuidado e a cena que se deu não dá nem pra chamar de real, mas de surreal:
Havia um homem sentado à soleira da porta, metade do corpo pra fora da casa, metade pra dentro. Usava uma cueca apenas, o restante de suas vestes misturaram-se com o resto do que sobrou dentro de casa. A cena é quase indizível. Cazuza tem uma música que diz: "mas ficou tudo fora do lugar..." e eu vos digo, café pequeno esse fora do lugar de Cazuza. Tudo estava revirado. A mesa da cozinha estava com os quatro pés para cima, o fogão também virado pra baixo. E era uma mistura tosca, nojenta de restos de feijão cozido, arroz, macarrão, caco de vidros (não ficou um só copo ou prato inteiros), roupas dos guarda roupas do quarto, garfo, colheres, facas, travesseiros, sapatos, tudo isso inundado pelo galão de 20 litros que fora jogado sobre tudo.
Respirei e entrei no quarto e lá o mesmo cenário se apresentava, portas de guarda roupas arrancadas, roupas todas pra fora, televisão virada com a tela pro chão, colchões fora do lugar.
Não sobrou quase nada que pudesse ser usado, a não ser as roupas depois de lavadas...
Tudo arrebentado, inacreditavelmente arrebentado.
O tal de cueca, não dizia nada, ou melhor, dizia que não sabia de nada. Os meninos que vierem conosco trazer a aparelhagem queriam bater no homem de cueca. Não deixamos. Estava muito bêbado, alterado, não estava em condições nem de apanhar o pobre diabo.
Chamamos então a polícia...Estava tudo tão inacreditável que eu achava que mais nada podia me acontecer, mas aconteceu. Um dos policiais estudou quase a vida toda comigo, desde a sexta série. E eles me perguntavam: existe alguém que não gosta de você? Algum desafeto? Respondi, deve haver muita gente, é claro, mas é secreto, nunca se apresentaram. E ali ficaram por algum tempo, tentando adivinhar como aconteceu tudo, desde o princípio. Eu conjecturava, vai ver é só um bêbado, que veio batendo a mão de portão em portão até que esse abriu (Eu não trancava o portão) e ele pode ter descido e tido um surto, algo assim...Não há como sabermos como começou, tampouco as razões, se é que existiu alguma.
Foi muita loucura pra uma noite só...
Ele não conseguia se explicar nem com os policiais.
E lá fomos nós pra delegacia. Ele já vestido, deixou para trás o tênis que ficara repleto de estilhaços com molho de macarrão.
Eu pedi uma indenização pequena diante do estrago, ele era ajudante de pedreiro e diante da juíza ele assinou, dizendo que o máximo que poderia pagar seria tanto em dez parcelas.
O homem da cueca não atrasou uma prestação sequer, para seguir em liberdade.
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar certo? Apois, em 2010 caiu.
Tive a casa invadida por outro bêbado, duas da madruga, eu amamentando meu filho com 22 dias. Ele bêbado e com um playstation na mão. Morador do prédio também. Acho que errou a porta devido a bebedeira, meu companheiro só viu quem era depois que ele foi parar no meio da sala com a voadora que ele deu de dentro do quarto. Ao menos esse estava vestido...
Após esses episódios nunca mais dormi de porta aberta. Verifico toda noite se a porta está mesmo trancada, sem manias, verifico uma vez e pronto...
Até hoje alguns amigos lembram desse dia e pedem: ah, conta aquela história do louco de cueca...
Então aí vai a história como ela se deu...
* E aos meus amigos bêbados, fiquem sabendo que as portas de casa estão abertas pra vocês todos! É só bater e trazer uma caixinha de cerveja pra fortalecer o rolê!*
Pois bem, chegamos não eram 05:00 completas. A luz da casa de cima estava acesa e a dona da casa estava com a cabeça pra fora e os olhos esbugalhados, querendo nos alertar sobre o que mal sabia que poderia estar acontecendo. Ela só repetia: -"Acho que tem alguém aí, acho que tem alguém aí embaixo..."
Descemos com cuidado e a cena que se deu não dá nem pra chamar de real, mas de surreal:
Havia um homem sentado à soleira da porta, metade do corpo pra fora da casa, metade pra dentro. Usava uma cueca apenas, o restante de suas vestes misturaram-se com o resto do que sobrou dentro de casa. A cena é quase indizível. Cazuza tem uma música que diz: "mas ficou tudo fora do lugar..." e eu vos digo, café pequeno esse fora do lugar de Cazuza. Tudo estava revirado. A mesa da cozinha estava com os quatro pés para cima, o fogão também virado pra baixo. E era uma mistura tosca, nojenta de restos de feijão cozido, arroz, macarrão, caco de vidros (não ficou um só copo ou prato inteiros), roupas dos guarda roupas do quarto, garfo, colheres, facas, travesseiros, sapatos, tudo isso inundado pelo galão de 20 litros que fora jogado sobre tudo.
Respirei e entrei no quarto e lá o mesmo cenário se apresentava, portas de guarda roupas arrancadas, roupas todas pra fora, televisão virada com a tela pro chão, colchões fora do lugar.
Não sobrou quase nada que pudesse ser usado, a não ser as roupas depois de lavadas...
Tudo arrebentado, inacreditavelmente arrebentado.
O tal de cueca, não dizia nada, ou melhor, dizia que não sabia de nada. Os meninos que vierem conosco trazer a aparelhagem queriam bater no homem de cueca. Não deixamos. Estava muito bêbado, alterado, não estava em condições nem de apanhar o pobre diabo.
Chamamos então a polícia...Estava tudo tão inacreditável que eu achava que mais nada podia me acontecer, mas aconteceu. Um dos policiais estudou quase a vida toda comigo, desde a sexta série. E eles me perguntavam: existe alguém que não gosta de você? Algum desafeto? Respondi, deve haver muita gente, é claro, mas é secreto, nunca se apresentaram. E ali ficaram por algum tempo, tentando adivinhar como aconteceu tudo, desde o princípio. Eu conjecturava, vai ver é só um bêbado, que veio batendo a mão de portão em portão até que esse abriu (Eu não trancava o portão) e ele pode ter descido e tido um surto, algo assim...Não há como sabermos como começou, tampouco as razões, se é que existiu alguma.
Foi muita loucura pra uma noite só...
Ele não conseguia se explicar nem com os policiais.
E lá fomos nós pra delegacia. Ele já vestido, deixou para trás o tênis que ficara repleto de estilhaços com molho de macarrão.
Eu pedi uma indenização pequena diante do estrago, ele era ajudante de pedreiro e diante da juíza ele assinou, dizendo que o máximo que poderia pagar seria tanto em dez parcelas.
O homem da cueca não atrasou uma prestação sequer, para seguir em liberdade.
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar certo? Apois, em 2010 caiu.
Tive a casa invadida por outro bêbado, duas da madruga, eu amamentando meu filho com 22 dias. Ele bêbado e com um playstation na mão. Morador do prédio também. Acho que errou a porta devido a bebedeira, meu companheiro só viu quem era depois que ele foi parar no meio da sala com a voadora que ele deu de dentro do quarto. Ao menos esse estava vestido...
Após esses episódios nunca mais dormi de porta aberta. Verifico toda noite se a porta está mesmo trancada, sem manias, verifico uma vez e pronto...
Até hoje alguns amigos lembram desse dia e pedem: ah, conta aquela história do louco de cueca...
Então aí vai a história como ela se deu...
* E aos meus amigos bêbados, fiquem sabendo que as portas de casa estão abertas pra vocês todos! É só bater e trazer uma caixinha de cerveja pra fortalecer o rolê!*
segunda-feira, 2 de março de 2015
O Bar do Zero à Zero
Hoje vou contar um período da minha vida em relação à música. Um período que veio muito antes do Bar do Zé Bosta. O momento exato em que decidi que era hora de tocar pra valer, assumir um lugar e encarar de verdade, com coragem por ser a primeira vez. Muito diferente das fogueiras da vida que me davam tanto prazer em tocar e estar com os amigos.
Eu precisava viver, pagar contas, criar dois filhos, enfim...tocar a vida. Minha amiguirmã, a Gi, veio morar junto comigo e me propôs uma parceria, uma dessas que a gente faz pela vida e que vai para além dela. Morando juntas nós ensaiávamos quase ou todos os dias, músicas que sempre tocavam nossos corações. sobretudo muito poéticas.
Chico, muito Chico na vida e na veia, Caetano, Raul, Gal, era tão variado o nosso gosto...até resgatamos a música de uma banda dos anos 80 chamada Sempre Livre, a música era Sou Free, um puta trocadilho.
Um amigo queridíssimo falou de nós no bar que ficava em frente à faculdade Metodista, no Rudge.
E lá fomos nós, sujando nomes pra comprar aparelhagem, pedindo carona pra sair do Jardim Represa pro Rudge Ramos, com a cara, a coragem, a aparelhagem no busão, o violão, os microfones, cabos, pedestais, enfim a caralhada toda de que precisávamos.
Tocávamos às quintas feiras e com o passar do tempo, os dias de quinta feira a aula de filosofia que a minha amiga e parceira precisava frequantar era feita no bar.
A sala toda de Filosofia descia para o bar ... nesse bar bebíamos e celebravámos a amizade, o amor, as loucuras, a poesia, os novos amigos, quem fez filosofia nessa época lembra como era foda!
Até os professores desciam pro bar. Uma vez ganhei um brinco lindo de um professor, professor Gutièrrrez, ele comprou da Kelly que é artesão-maluca e me presenteou... Nunca me esqueci, ele me presenteou também com o livro de poesias dele.
Durante um bom tempo tocamos ali, atendendo à pedidos musicais, afinal a galera da filosofia gostava do nosso repertório ainda revolucionário e poético!
Era tão bonito! A gente tocava com a fome da alma, a fome do coração, a vontade plena de ser feliz e fazer outros felizes por apenas um momento...que fosse!
Não posso deixar de mencionar o Garçon, que nos adorava, e era recíproco, tiramos tantas fotos com ele na época. Mal chegávamos pra montar a aparelhagem e lá vinha o Sr. Carlitos perguntar o que gostaríamos de beber. Sinto saudade de Carlitos, gostaria de vê-lo um dia. Era um encanto em pessoa. Demasiado humano, demasiado sensível pra sentir como se soubesse tudo que sentíamos...
Após algum tempo pedindo carona pra tocar os motoristas já nos conheciam e abriam as portas de trás para entrarmos com a caralhada de equipamentos.
Tantas foram as vezes que mesmo pegando carona a gente ia tocando dentro do busão, isso nos alegrava e era uma forma de bancar nossa passagem, com alegria naquilo que fazíamos.
E assim foi indo...até que um dia ela (a dona do bar) disse: quando o bar encher e render eu pago tanto, isso será proporcional.
Tudo bem! O bar sempre estava cheio. Então sempre teríamos um cachê pra receber...Tranquilo.
Em outra vez a dona pagou muito pouco e fomos reclamar, ele salientou os gastos com o papel higiênico que tinha com os frequentadores do bar.
Isso, mais uma vez doeu...muito!
Mas éramos tão corajosas que isso era pouco pra nos derrumbar, tanto pelo que adorávamos fazer, quando pela grana, que mal nos mantinha de pé, mas já era alguma coisa.
Até que chegou o dia em que fomos receber e ela nos disse na lata: - Meninas, hoje é zero à zero! E não nos deu nenhum centavo.
Voltamos frustradas, mas em nenhum momento pensamos em desistir, nem mesmo quando fomos pedir carona pro mesmo motorista que nos trouxe.
Ele (o motorista) perguntou: - ué, mas vocês não foram trabalhar? Dizemos : - fomos sim, mas hoje não recebemos nada! Ele muito gentil nos deu carona, voltamos pra casa, nunca mais pisamos no bar Zero à Zero...Não preciso citar o nome do bar, quem esteve lá, quem viveu isso, sabe do que estou falando. Voltamos pra casa cantando e tocando Raul Seixas, alegrando a vida de alguns trabalhadores, talvez tão infelizes quanto nós...Ou seja, guardamos nossa dor no bolso e voltamos tocando pra casa, sobre a dor e sobretudo com o desejo de não desistir nunca...mais forte que tudo!
Grata Zé Bosta! Grata Zero à Zero!
Hoje não me sinto distante do meu objetivo, por trabalhar na música com uma equipe na qual acredito e estou junto. Suindara Rock Sertão, música autoral, inspirada em literatura e amor!
O mundo precisa de amor, cada vez mais amor, poética, política, ideológica e socialmente falando!
E eu sou, eu sou, eu sou o amor...da cabeça aos pés!!!
Bora povo...com pressão...sempre!!!
Em breve mais um pouco desse percurso...beijos e grata à todos e todas!
Eu precisava viver, pagar contas, criar dois filhos, enfim...tocar a vida. Minha amiguirmã, a Gi, veio morar junto comigo e me propôs uma parceria, uma dessas que a gente faz pela vida e que vai para além dela. Morando juntas nós ensaiávamos quase ou todos os dias, músicas que sempre tocavam nossos corações. sobretudo muito poéticas.
Chico, muito Chico na vida e na veia, Caetano, Raul, Gal, era tão variado o nosso gosto...até resgatamos a música de uma banda dos anos 80 chamada Sempre Livre, a música era Sou Free, um puta trocadilho.
Um amigo queridíssimo falou de nós no bar que ficava em frente à faculdade Metodista, no Rudge.
E lá fomos nós, sujando nomes pra comprar aparelhagem, pedindo carona pra sair do Jardim Represa pro Rudge Ramos, com a cara, a coragem, a aparelhagem no busão, o violão, os microfones, cabos, pedestais, enfim a caralhada toda de que precisávamos.
Tocávamos às quintas feiras e com o passar do tempo, os dias de quinta feira a aula de filosofia que a minha amiga e parceira precisava frequantar era feita no bar.
A sala toda de Filosofia descia para o bar ... nesse bar bebíamos e celebravámos a amizade, o amor, as loucuras, a poesia, os novos amigos, quem fez filosofia nessa época lembra como era foda!
Até os professores desciam pro bar. Uma vez ganhei um brinco lindo de um professor, professor Gutièrrrez, ele comprou da Kelly que é artesão-maluca e me presenteou... Nunca me esqueci, ele me presenteou também com o livro de poesias dele.
Durante um bom tempo tocamos ali, atendendo à pedidos musicais, afinal a galera da filosofia gostava do nosso repertório ainda revolucionário e poético!
Era tão bonito! A gente tocava com a fome da alma, a fome do coração, a vontade plena de ser feliz e fazer outros felizes por apenas um momento...que fosse!
Não posso deixar de mencionar o Garçon, que nos adorava, e era recíproco, tiramos tantas fotos com ele na época. Mal chegávamos pra montar a aparelhagem e lá vinha o Sr. Carlitos perguntar o que gostaríamos de beber. Sinto saudade de Carlitos, gostaria de vê-lo um dia. Era um encanto em pessoa. Demasiado humano, demasiado sensível pra sentir como se soubesse tudo que sentíamos...
Após algum tempo pedindo carona pra tocar os motoristas já nos conheciam e abriam as portas de trás para entrarmos com a caralhada de equipamentos.
Tantas foram as vezes que mesmo pegando carona a gente ia tocando dentro do busão, isso nos alegrava e era uma forma de bancar nossa passagem, com alegria naquilo que fazíamos.
E assim foi indo...até que um dia ela (a dona do bar) disse: quando o bar encher e render eu pago tanto, isso será proporcional.
Tudo bem! O bar sempre estava cheio. Então sempre teríamos um cachê pra receber...Tranquilo.
Em outra vez a dona pagou muito pouco e fomos reclamar, ele salientou os gastos com o papel higiênico que tinha com os frequentadores do bar.
Isso, mais uma vez doeu...muito!
Mas éramos tão corajosas que isso era pouco pra nos derrumbar, tanto pelo que adorávamos fazer, quando pela grana, que mal nos mantinha de pé, mas já era alguma coisa.
Até que chegou o dia em que fomos receber e ela nos disse na lata: - Meninas, hoje é zero à zero! E não nos deu nenhum centavo.
Voltamos frustradas, mas em nenhum momento pensamos em desistir, nem mesmo quando fomos pedir carona pro mesmo motorista que nos trouxe.
Ele (o motorista) perguntou: - ué, mas vocês não foram trabalhar? Dizemos : - fomos sim, mas hoje não recebemos nada! Ele muito gentil nos deu carona, voltamos pra casa, nunca mais pisamos no bar Zero à Zero...Não preciso citar o nome do bar, quem esteve lá, quem viveu isso, sabe do que estou falando. Voltamos pra casa cantando e tocando Raul Seixas, alegrando a vida de alguns trabalhadores, talvez tão infelizes quanto nós...Ou seja, guardamos nossa dor no bolso e voltamos tocando pra casa, sobre a dor e sobretudo com o desejo de não desistir nunca...mais forte que tudo!
Grata Zé Bosta! Grata Zero à Zero!
Hoje não me sinto distante do meu objetivo, por trabalhar na música com uma equipe na qual acredito e estou junto. Suindara Rock Sertão, música autoral, inspirada em literatura e amor!
O mundo precisa de amor, cada vez mais amor, poética, política, ideológica e socialmente falando!
E eu sou, eu sou, eu sou o amor...da cabeça aos pés!!!
Bora povo...com pressão...sempre!!!
Em breve mais um pouco desse percurso...beijos e grata à todos e todas!
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
O Bar do Zé Bosta!
Já falei muito sobre o poço da solidão, então já subi o suficiente pra enxergar sob outra perspectiva as vicissitudes da vida.
Decidi falar sobre o princípio do meu lado artista, arteiro, enfim...
Após tocar alguns anos com a banda Suave Coisa Nenhuma e após o término da banda, decidimos eu e minha amiguirmã realizar um projeto só com mulheres tocando.
E assim fizemos e o nome era Sansaras, nome inspirado no livro de Hermann Hesse (Sidarta).
Eu no violão, 3 nos vocais e uma percussionista incrívelmente incrível.
às vezes me perguntam porque não pego um bar pra tocar e tals...penso que por trauma mesmo. A estrada não é fácil e tem coisas que machucam a gente bem profundamente...
Conseguimos esse bar pra tocar, centro de São Bernardo, pico bacana e tal. Tiramos os sons com maior carinho: Chico Buarque, Caetano, Raul, Marisa Monte, Secos e Molhados, Mutantes, Elis Regina, tudo que foi possível tirar e que achávamos que era de muito bom gosto e tal, coisas que gostávamos de tocar e cantar...
Muito legal 4 mulheres tocando e cantando, abertura de vozes, repertório diversificado e cá entre nós ...muito fino!
Até que após algumas apresentações o dono do bar chegou e disse na lata: ou vocês tocam músicas mais animadas, ou vou chamar o cara que está do outro lado da rua (que era o cara que nos indicou, inclusive). Ele queria música de rádio, música atual. E nós até tocávamos músicas animadas, mas do nosso gosto. É muito difícil encontrar essa medida da demanda e do desejo...
Um dia ele nos disse simplesmente assim: se algum dia eu quiser que um cara chegue aqui e compre uma garrafa de wisky e sente no balcão e comece a chorar eu contrato vocês novamente!
Isso foi forte...doeu, eu me senti muito mal, como se arte e música boa fosse só o que tocasse no rádio. E tínhamos até público, os amigos fiéis sempre estavam juntos onde quer que uma de nós tocássemos. E sempre foi assim. Até esse dia, que inclusive o dono do bar estava distribuindo doses de pinga pra todo mundo e uma pessoa disse: é grátis? quero uma também! O dono disse: é grátis pra quem está consumindo! Você não consumiu nada até agora! O cara comprou uma breja e dispensou a pinga grátis...Não sei se eu teria sangue frio pra dispensar a pinga grátis, enfim, assim foi...
O corre era feito por nós, que contávamos com amigos pra levar e buscar a aparelhagem e muitas vezes o cachê ficava quase todo nessa questão da logística.
Padecemos um bocado, mas aprendemos (ou pegamos trauma) de tocar em bares. E se vc vier me perguntar porque não toco em bares, é simples.
Trabalho com arte e não é fácil pra ninguém, sobretudo no país do tchetchereretchete...e perereca suicída, que não condeno, por entender das diferenças não só sociais, mas de gosto simplesmente e sobretudo cultural.
Hoje trabalho com música autoral mesclada com literatura brasileira e latino americana, porque eu sou apenas uma mulher latino americana sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda de muitas partes desse Brasil, porque meu pai trabalhou em boa parte do país e fomos sempre com ele.
Nada pra esconder ou me envergonhar, só uma imensa vontade de lutar pela música brasileira e promover isso até os meus ossos, onde for possível e preciso...
E sobre tocar em bares...Tenho outras poucas e boas que irei escrevendo aqui aos poucos.
Respeito muito quem toca e consegue suportar tudo que é preciso e possível de se passar, mas minha onda é outra...E to indo em busca dessa onda maior, com luta, sempre!
Beijo à todos e hoje recomendo Vida de Artista do grandessíssimo Itamar Assumpção.
Escuto quase todo dia, porque quando alguém me pergunta como faço tantas coisas, como tocar, fazer artesanato, cantar, escrever, ser formada em Psicologia, fazer pós graduação, ser mãe, esposa, etc. etc. etc. É essa música que me vem à cabeça. Muitas vezes é preciso viver o que está rolando no momento pra aprender alguma coisa ali, naquele momento. Sou assim...vivo intensamente os momentos.
Mais beijos então...em breve outras pérolas do caminho publicarei aqui...
domingo, 8 de fevereiro de 2015
Uma sessão de análise
Hoje, quarta feira (04/02/2015) fui à sessão de análise meio sem saber o que dizer. Há não ser sobre o acontecimento inusitado do fim de semana.
Bom mesmo é ir assim, sem saber o que dizer e quando diz algo ainda acrescenta na maior cara de pau de frente com o insconsciente: "nem sei porque estou dizendo isso"...
E segue a sessão...
Sessão álias que começa antes de chegar ao setting analítico, antes da entrada no consultório.
Começa pelo horário novo que tenho que chegar, a grana que tenho que pagar e por vezex não a tenho. A roupa que vou usar - isso quando observo que começo a melhorar- antes isso não tinha sentido pra mim. Do jeito que eu estava em casa eu ia. Super em cima da hora, pelo medo de sair à rua, etc...
O fato é que hoje fui lendo Clarice Lispector. Um livro dificílimo para mim nesse período. Leio um parágrafo e sinto vontade de queimar, jogar na parede, rasgar, jogar no lixo, enfim...
Como não me canso da coragem e mesmo sabendo que vai doer estou seguindo na leitura e na vida.
Mesmo que eu leia duas páginas e guarde na bolsa tal livro, com raiva e aos prantos. Verdadeira relação de amor e ódio com o livro, a autora e comigo mesma.
Hoje, sem grana pra pagar a análise, mal pelo dia que passei ontem e mal pelo que lia enquanto avançava o trajeto até Santo André. Hoje, justo hoje, foi um dos dias mais significaticos com meu analista.
Não só Clarice me perturbou, como também os contos que consegui trazer sobre mulheres que correm com os lobos (outro livro que tenho sofrido pra ler), até onde consegui eu troxe pra análise. Sobretudo o conto da mulher esqueleto e sapatinhos vermelhos. Parei de ler pois achei que não era o melhor momento.
Mas não há momento. O momento é hoje, agora, ele vem, submerge, nasce e renasce, pois já estava dentro, gestando, esperando o momento de sair. Nascer ou renascer.
Hoje foi um dia desses. Saí chorando de lá, peguei dois ônibus chorando na volta e ainda chorei muito em casa. Pela grandeza da compreensão que pude ter sobre tudo que afeta minha existência. Misto de alegria e ausência, felicidade e angústia, vazio e mais vazio ainda...
O conto da mulher esqueleto foi o que deu o tom de tudo que foi dito hoje.
Se eu pudesse transportar a sessão de análise de hoje pra música, foi como se eu tivesse dito: se liga, vou te falar desse conto em lá menor e meu análista tivesse composto junto comigo uma música, compreendendo cada escala. Compomos juntos uma música na qual pude compreender alguns sentimentos, que tantas vezes foram quardados, pisados, amortizados e quase esquecidos.
Hoje falamos a linguagem do desejo e o endentimento que tive de tudo isso é incomensurável.
Feliz por saber sobre o que não quero e não quero mesmo!
Não quero a falta de ética, nem as fofocas com seus sintomas da vida cotidiana.
Quero o lado huma da vida, seja com dor, sofrência, alegria, seja como for, quero me in-mundicizar da vida, mas quero com ética.
Quero viver o mundo in-mundo! Quero humanizar no sentido mais profundo, dolorosa e rico dessa palavra.Porque não sei viver sem sentir, tampouco sem fazer sentido, não só pra mim, mas pras minhas relações neste mundo.
E quero dedicar esse texto de hoje ao meu analista. Gracias pela troca. Pelo afeto.
Escutem: http://youtu.be/9K3Wj5BZBF4
Bom mesmo é ir assim, sem saber o que dizer e quando diz algo ainda acrescenta na maior cara de pau de frente com o insconsciente: "nem sei porque estou dizendo isso"...
E segue a sessão...
Sessão álias que começa antes de chegar ao setting analítico, antes da entrada no consultório.
Começa pelo horário novo que tenho que chegar, a grana que tenho que pagar e por vezex não a tenho. A roupa que vou usar - isso quando observo que começo a melhorar- antes isso não tinha sentido pra mim. Do jeito que eu estava em casa eu ia. Super em cima da hora, pelo medo de sair à rua, etc...
O fato é que hoje fui lendo Clarice Lispector. Um livro dificílimo para mim nesse período. Leio um parágrafo e sinto vontade de queimar, jogar na parede, rasgar, jogar no lixo, enfim...
Como não me canso da coragem e mesmo sabendo que vai doer estou seguindo na leitura e na vida.
Mesmo que eu leia duas páginas e guarde na bolsa tal livro, com raiva e aos prantos. Verdadeira relação de amor e ódio com o livro, a autora e comigo mesma.
Hoje, sem grana pra pagar a análise, mal pelo dia que passei ontem e mal pelo que lia enquanto avançava o trajeto até Santo André. Hoje, justo hoje, foi um dos dias mais significaticos com meu analista.
Não só Clarice me perturbou, como também os contos que consegui trazer sobre mulheres que correm com os lobos (outro livro que tenho sofrido pra ler), até onde consegui eu troxe pra análise. Sobretudo o conto da mulher esqueleto e sapatinhos vermelhos. Parei de ler pois achei que não era o melhor momento.
Mas não há momento. O momento é hoje, agora, ele vem, submerge, nasce e renasce, pois já estava dentro, gestando, esperando o momento de sair. Nascer ou renascer.
Hoje foi um dia desses. Saí chorando de lá, peguei dois ônibus chorando na volta e ainda chorei muito em casa. Pela grandeza da compreensão que pude ter sobre tudo que afeta minha existência. Misto de alegria e ausência, felicidade e angústia, vazio e mais vazio ainda...
O conto da mulher esqueleto foi o que deu o tom de tudo que foi dito hoje.
Se eu pudesse transportar a sessão de análise de hoje pra música, foi como se eu tivesse dito: se liga, vou te falar desse conto em lá menor e meu análista tivesse composto junto comigo uma música, compreendendo cada escala. Compomos juntos uma música na qual pude compreender alguns sentimentos, que tantas vezes foram quardados, pisados, amortizados e quase esquecidos.
Hoje falamos a linguagem do desejo e o endentimento que tive de tudo isso é incomensurável.
Feliz por saber sobre o que não quero e não quero mesmo!
Não quero a falta de ética, nem as fofocas com seus sintomas da vida cotidiana.
Quero o lado huma da vida, seja com dor, sofrência, alegria, seja como for, quero me in-mundicizar da vida, mas quero com ética.
Quero viver o mundo in-mundo! Quero humanizar no sentido mais profundo, dolorosa e rico dessa palavra.Porque não sei viver sem sentir, tampouco sem fazer sentido, não só pra mim, mas pras minhas relações neste mundo.
E quero dedicar esse texto de hoje ao meu analista. Gracias pela troca. Pelo afeto.
Escutem: http://youtu.be/9K3Wj5BZBF4
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Ah, as mulheres de trinta!
Essas criaturas tão descomplicadamente sedutoras, interessantes, enigmáticas, sinceras, loucas, doidas, frustradas, alegres, sensuais, mães, filhas e até avós...
Nem 40 nem 20...30 e um e quatro, e sete e nove...30.
A década das descobertas mais arcaicas nos sentidos: da vida, do corpo, da mente, dos desejos impublicáveis.
Como são belas essas frutas maduras ainda no pé, como cheiram à maturidade, cheiros de frutas, de flores abertas, de corpos cheios de vida.
Costas largas ou finas, que sustentam o peso do mundo, que trazem as marcas do machismo-patriarcal-capitalista!
Ancas fartas pelos filhos que vieram e pelos que estão por vir, se ajeitam no andar, sempre sedutor, ou pela quantidade de vida vivida ou pela querência de viver ainda mais...
Nem 40, nem 20...30 anos é a idade da razão, pensando em Sartre, 34 seria o número exato, mas não há exatidão quando se trata de subjetividades.
Esses cabelos que caem disfarçadamente mesmo quando presos em coque, mesmo quando carecas, ou de cabelos muito curtos. Todas temos o poder de inebriar o mundo. Somos força e ação! Não somos prazer e sedução apenas...Pensamos e acima de tudo agimos! Lutamos contra tudo e todos pelos nossos ideais e pelos ideias coletivos. É possível que nem todas sejamos assim, nem todas alcançem ou talvez não estejam praparadas pra suportar essa pressão que é a vida.
Mas a cada momento que eu estiver de pé, estarei buscando, trazendo, fazendo refletir cada mulher que me apareça na frente e esteja disposta a entrar nessa luta.
Pode ser de 12 anos, de 15, de 40, 50, 60...sempre há tempo pra reflexão, como nos disse Brecht, "nada deve parecer impossível de mudar!"
Esses vestidos, saias, calças, shorts, que nada querem dizer no fim das profundidades subjetivas revelam o nosso trato, ou mal trato.
Idade em que tomamos a consciência de que estamos cada vez mais próximas dos 40, mesmo estando com 30 anos exatos. Os 30 anos nos faz pensar demais, até quase enlouquecer, quando nos damos conta de quão imensas ainda são as diferenças entre homens e mulheres e principalmente quando pensamos e tomamos atitudes.
Eu, diferente de Sartre, chamaria de A Idade do Desejo, desejo de mudar, de acreditar no que digo e no que dizem outras companheiras que estão de pé como eu, prontas pra dar pressão à vida!
Que orgulho! Ser mulher e estar entre os 30 e 40 e assim pretendo seguir enquanto o destino mo permitir...
Esse texto, escrevi pensando em um grande amigo, Joãozinho, um cara machista, cheio de piadinhas e tal...mas que eu considero apesar de tudo, por gostar da pessoa que ele é, fora essa parte machista dele. Ainda há tempo pra ele pensar diferente.
Mas penso nele, sobretudo porque quando ele vê alguma piada machista a primeira pessoa que ele pensa é em mim. Uma pena que ele me manda tais piadas, talvez não também. Na verdade sinto-me lisonjeada por entender o que represento pra ele. Sobremaneira que ele reconhece minha luta política e ideológica!
Pensemos todos, seja quel for a idade, que é preciso refletir, modificar, lutar pelo que acreditamos, sejamos homens ou mulheres. Algo não está certo no mundo e anda sobretudo mais dificultoso pra nós mulheres, ainda mais pra nós que gozamos e não devemos o nosso gozo à ninguém...
Fica aí uma indicação musical do meu compositor maldito mais amado, Sérgio Sampaio...
Aí vai: http://youtu.be/aB80YLzDhqs
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Desejo, necessidade e vontade!
Não tenho escrito assiduamente, como já disse antes, alguns sentimentos devem ser digeridos antes que se transformem em palavras.
Há dias em que simplesmente não tenho forças pra levantar da cama e é doloroso ver meus filhos, meu companheiro sem conseguir entender isso. Gostaria de ter palavras pra expressar esse sentimento.
Mas algumas coisas não têm explicação. O corpo às vezes pede esse descanso, como que pra acalmar a mente.E eu respeito meu corpo, quer dizer, passei à respeitá-lo agora. Antes eu não sabia o que era isso. E botava meu corpo na rua como se estivesse sem pele...
Hoje compreendo que ele tem limites também.
Tenho pensado sobre essa necessidade do corpo se recolher. Não é vontade, capicho, desejo, é uma necessidade mesmo. Aquilo que você tem que resolver urgente ou morrerá, parecido com a fome. Eu sei que não morrerei se não me deitar, mas as consequencias podem ser ruins também.
Hoje estou de pé, Programei meu dia pra fazer algumas coisas em casa, sem ter que sair daqui por enquanto. Porque sair implica em muitas perguntas (por parte dos outros) das quais eu não tenho a resposta ainda, E nem deveria ter, mas a sensibilidede do espírito não deixa passar em brancas nuvens e sofro.
Por falar em necessidade, pesnsei algumas coisas à respeito da vontade e do desejo também.
A vontade foi a primeira a fugir, sumiu do mapa. Pirou, enlouqueceu, abandonou meu corpo. Pulou fora!
A necessidade ficou para dar manutenção à sobrevivência e algumas vezes é na necessidade extrema em que me apoio pra conseguir lutar contra tudo que me aflige.
Agora, o desejo, esse minha gente, é vil! Ele nem vai, nem fica, disfarça-se de vontade e necessidade e muitas vezes não é nem uma coisa, nem outra, tampouco desejo. Algumas vezez é simplesmente nada! Delírio, talvez.
O desejo é capaz de se transformar em várias armadilhas. E é impossível realizá-lo. Porque assim que que o façamos, vem outro, mais forte e mais insistente, como a mosca na sopa do Raul Seixas, que você mata uma e vem outra em seu lugar. Por isso é difícil lidar com as coisas que conquistamos, é difícil gostar do que se tem. Porque sempre haverá mais e mais pra ser conquistado, sem fim...
O desejo é resto, é o que sobra depois que conseguimos tudo que queremos. E ele é indestrutível, inabalável!!
Agora, é ficar esperta com esses três e saber distinguir o que é desejo, necessidade e vontade. Sabendo que cada qual tem sua característica, mas só o desejo é mutante! Vil! Egoísticamente Vil!
E hoje, dando um pouco de pressão à vida eu vou me levantar e fazer tudo que for possível fazer, hoje melhor que ontem e amanhã melhor que hoje. Um dia por vez...Com pressão! Para a frente! Vou indicar uma música hoje pra vocês que pensei durante o processo em que não escrevi e andei fazendo outras coisas...http://youtu.be/hH9CQY5NC1g
Há dias em que simplesmente não tenho forças pra levantar da cama e é doloroso ver meus filhos, meu companheiro sem conseguir entender isso. Gostaria de ter palavras pra expressar esse sentimento.
Mas algumas coisas não têm explicação. O corpo às vezes pede esse descanso, como que pra acalmar a mente.E eu respeito meu corpo, quer dizer, passei à respeitá-lo agora. Antes eu não sabia o que era isso. E botava meu corpo na rua como se estivesse sem pele...
Hoje compreendo que ele tem limites também.
Tenho pensado sobre essa necessidade do corpo se recolher. Não é vontade, capicho, desejo, é uma necessidade mesmo. Aquilo que você tem que resolver urgente ou morrerá, parecido com a fome. Eu sei que não morrerei se não me deitar, mas as consequencias podem ser ruins também.
Hoje estou de pé, Programei meu dia pra fazer algumas coisas em casa, sem ter que sair daqui por enquanto. Porque sair implica em muitas perguntas (por parte dos outros) das quais eu não tenho a resposta ainda, E nem deveria ter, mas a sensibilidede do espírito não deixa passar em brancas nuvens e sofro.
Por falar em necessidade, pesnsei algumas coisas à respeito da vontade e do desejo também.
A vontade foi a primeira a fugir, sumiu do mapa. Pirou, enlouqueceu, abandonou meu corpo. Pulou fora!
A necessidade ficou para dar manutenção à sobrevivência e algumas vezes é na necessidade extrema em que me apoio pra conseguir lutar contra tudo que me aflige.
Agora, o desejo, esse minha gente, é vil! Ele nem vai, nem fica, disfarça-se de vontade e necessidade e muitas vezes não é nem uma coisa, nem outra, tampouco desejo. Algumas vezez é simplesmente nada! Delírio, talvez.
O desejo é capaz de se transformar em várias armadilhas. E é impossível realizá-lo. Porque assim que que o façamos, vem outro, mais forte e mais insistente, como a mosca na sopa do Raul Seixas, que você mata uma e vem outra em seu lugar. Por isso é difícil lidar com as coisas que conquistamos, é difícil gostar do que se tem. Porque sempre haverá mais e mais pra ser conquistado, sem fim...
O desejo é resto, é o que sobra depois que conseguimos tudo que queremos. E ele é indestrutível, inabalável!!
Agora, é ficar esperta com esses três e saber distinguir o que é desejo, necessidade e vontade. Sabendo que cada qual tem sua característica, mas só o desejo é mutante! Vil! Egoísticamente Vil!
E hoje, dando um pouco de pressão à vida eu vou me levantar e fazer tudo que for possível fazer, hoje melhor que ontem e amanhã melhor que hoje. Um dia por vez...Com pressão! Para a frente! Vou indicar uma música hoje pra vocês que pensei durante o processo em que não escrevi e andei fazendo outras coisas...http://youtu.be/hH9CQY5NC1g
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
O Homem
Como diz aquela música do Raul : O Homem, "no momento em que eu ia partir, resolvi voltar...Muitas vezes é assim que acontece e quando consigo vencer a barreira do corpo que simplesmente se nega à caminhar e tento dar alguns passos os sintomas simplesmente tomam conta de tudo que eu chamo corpo.
Mas não estou aqui pra brincadeiras, estou para lutar contra isso, passando mal ou não. Simplesmente lutar...
É tão belo ver o detergente vencendo a gordura enquanto lavo a louça. E é assim, sentindo a beleza de cada passo que vou sair dessa.
Toda vez que arrumo a cama, que consigo sair dela, é bonito para mim. Pequenas coisas que não fazem sentido para muitos de vocês, para mim é bonito.
Fiquei alguns dias sem escrever, pois com a mudança da medicação veio um turbilhão de coisas que jamais imaginei sentir. O médico disse que seria difícil, eu pensei num mal estar, sono, sudorese, coisas do tipo. Mas a verdade é que tive alucinações e delírios pesadíssimos. Então esperei passar essa fase de adaptação, até porque algumas coisas precisam ser digeridas, ruminadas, compreendidas, pra depois sair. Sem contar alguns sonhos que consegui lembrar e escrever. E tive coragem pra ler apenas uma vez. Talvez eu volte a ler esses tais sonhos pro meu analista.
O que é certo e bonito nesse caminho é perceber o que não me serve mais, como fiz com as roupas que doei. É bonito poder caminhar um passo de cada vez sabendo onde se está indo e principalmente o porquê.
Se bem que o que quero de verdade é um mistério ainda, porque sou multifacetada pras escolhas da vida cotidiana e prática.
Mas o que eu não quero mais eu já sei. E pra mim já é um grande, um enorne passo.
Agora estou me preparando pra quando chegar o momento da escolha, da decisão, enfim da elaboração desses conflitos que me trouxeram até aqui.
Sempre que vou escrever eu escuto Belchior, fora o terceiro texto que escutei Caetano e Renato Braz.
Hoje não escutei nada, (está muito cedo ainda), mas penso sempre em Sérgio Sampaio. Escutem algum dia uma música dele. Poeta feroz, sem medo do que escreve. Sempre preferi o lado melancólico da vida. É difícil olhar o mundo e seguir feliz e sorridente. Por isso prefiro os "malditos", sejam eles compositores ou escritores.
Porque a vida me fez assim, ainda tenho um douçura guardada comigo e vou usá-la nos momentos em que for necessário, quando toda a amargura decidir tomar conta do meu corpo.
Creio que é o que tenho feito aqui a cada vez que escrevo. Apesar da dureza de algumas palavras, procuro sempre a leveza em outras...E assim vou caminhando, um dia após o outro, como o detergente vencendo a gordura da louça suja.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Sobre o tempo
Antes de começar a ler, sugiro que coloquem no youtube oração ao tempo do Caetano Veloso (como vou fazer agora), só para inspirar a leitura e também a escrita minha.
Tenho pensado nesses momentos de delírio que no fim das contas o que mais tenho perdido na vida, além das vontades, é o tempo. o Preciosíssimo tempo, senhor de todos os rítmos, tão bonito quanto a cara do meu filho.
Não quero acordo com o tempo, só quero meu tempo de volta. E sei que não terei mais, o tempo que passou já foi.
A cada respiração, a cada momento o tempo se vai, é uma dos aspectos da subjetividade que nunca param!
Há não ser por uma razão...o desejo! Essa é briga freia viu. Briga de foice no escuro mesmo, porque o tempo passa, vai levando tudo, mas o desejo fica. Prostado, emburrado, de mau humor, esperando que o tempo volte e lhe faça as vontades.
Ou corremos com o tempo e o desejo no bolso. Ou vamos adoecer se o desejo decidir empacar. E o meu desejo está empacado como mula diante do sofrimento.
Ou abandono o desejo pelo caminho, ou enfio ele no bolso e corro pra conseguir conquistar o tempo que me resta.,.
E como enfiar um desejo imenso no bolso, latejando? Ainda não descobri. E nem sei se é possível fazer isso.
Sei que vou com esse desejo onde for, e não perderei mais tempo desnecessário. Vou correr com o tempo que me resta. O perdido já foi, já passou...vou no meu tempo, o tempo lógico e não cronológico,. Um tempo no qual eu consiga me adequar, se é que isso será possível.
Quero vos indicar outra música agora pro final do texto: "Passarinheiro de Renato Braz".
É o que tenho a dizer hoje.
Axé à todos e força meu povo!!!!
Antes de começar a ler, sugiro que coloquem no youtube oração ao tempo do Caetano Veloso (como vou fazer agora), só para inspirar a leitura e também a escrita minha.
Tenho pensado nesses momentos de delírio que no fim das contas o que mais tenho perdido na vida, além das vontades, é o tempo. o Preciosíssimo tempo, senhor de todos os rítmos, tão bonito quanto a cara do meu filho.
Não quero acordo com o tempo, só quero meu tempo de volta. E sei que não terei mais, o tempo que passou já foi.
A cada respiração, a cada momento o tempo se vai, é uma dos aspectos da subjetividade que nunca param!
Há não ser por uma razão...o desejo! Essa é briga freia viu. Briga de foice no escuro mesmo, porque o tempo passa, vai levando tudo, mas o desejo fica. Prostado, emburrado, de mau humor, esperando que o tempo volte e lhe faça as vontades.
Ou corremos com o tempo e o desejo no bolso. Ou vamos adoecer se o desejo decidir empacar. E o meu desejo está empacado como mula diante do sofrimento.
Ou abandono o desejo pelo caminho, ou enfio ele no bolso e corro pra conseguir conquistar o tempo que me resta.,.
E como enfiar um desejo imenso no bolso, latejando? Ainda não descobri. E nem sei se é possível fazer isso.
Sei que vou com esse desejo onde for, e não perderei mais tempo desnecessário. Vou correr com o tempo que me resta. O perdido já foi, já passou...vou no meu tempo, o tempo lógico e não cronológico,. Um tempo no qual eu consiga me adequar, se é que isso será possível.
Quero vos indicar outra música agora pro final do texto: "Passarinheiro de Renato Braz".
É o que tenho a dizer hoje.
Axé à todos e força meu povo!!!!
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Água e banho!
Minha intenção ao escrever nesse blog, não é ensinar o
caminho da saída pra alguém, porque a saída depende de cada um de nós, e nem eu
encontrei a minha ainda. Cada um tem o seu lugar de saída, sua válvula de
escape.
O que quero é fazer aqui a minha tentativa de saída, através
do que gosto de fazer que é escrever, nesse momento. Porque como já disse
antes, quase todos os prazeres me foram roubados, seja pela doença ou pela
medicação. Sim porque a medicação ajuda, mas tem aspectos que são difíceis até
comentar, como a amortização de todos os sentimentos, não só o da tristeza, mas
também a alegria, o prazer, o gozo, enfim. Mas caso sirva pra alguém, será
melhor que o esperado.
Sou dessas que quer tudo passar e sentir pela vida afora,
intensamente e quando me vejo sem sentir direito nem a alegria nem o terror,
bate um certo desespero sim...
Além de escrever, eu gosto de ler, gosto de tocar com a
banda, conversar com amigos, tomar uma gelada e à medida do possível tenho
feito isso pra me ajudar.
Tenho contado com os que gostam de mim. Não necessito
comiseração. Estou de pé, sem forças, mas de pé. O que eu quero é voltar a
caminhar pela vida, tudo sentindo novamente, sem tanto medo do que possa me
afetar ou não.
E gente, todos nós estamos sujeitos à passar por isso no
mundo de hoje. Mais comum do que possamos imaginar. Porque o mundo quer de nós
coisas que talvez nunca consigamos dar. E nós também temos desejos que são
indestrutíveis dentro da gente, que também não damos conta e isso pode acabar
nos frustrando.
O título do blog é de propósito dê pressão à vida. Pois essa
mesma pressão que nos comprime e a mesma que devemos devolver à vida pra
conseguir sair da bolha. Como uma bola enfiada num balde de água que faz toda
pressão pra cima, pra sair.
Coisas que têm me ajudado no momento de crise extrema:
banho, água e escrever. Isso alivia um pouco a barra. Ah e voltei a fumar
também, eu havia parado por 2 meses. Engordei 10 kilos e creio que isso só
contribuiu pra piorar as coisas. Mas já posso observar uma melhora, 4 kilos se
foram. Não é prioridade, mas ajudou também.
Sei que será um pequeno passo a cada dia. Mas o passo
principal que estou dando é conseguir compreender que não é o outro que me
atinge, mas como reajo frente ao que acredito ser uma ameaça à minha vida.
Não sei como vim parar aqui, foi lentamente, até ficar
insuportável. O que sei é que aqui eu me recuso a ficar. Daqui do fundo do poço
da solidão, cada vez que eu escrever vai ser uma força pra cima. Como um
renascimento. Às vezes é preciso deixar certas coisas morrerem mesmo e re-começar,
se for o caso tudo outra vez (inspirada em mulheres que correm com os lobos).
É um livro que por enquanto não recomendo. Como disse uma
querida amiga ele não é um livro inocente, te rasga inteira! E fui lendo e me
sentindo rasgar, morrer, chorar, sofrer, querer, foi uma mistura profunda de
sentimentos. Retomarei essa leitura conforme a minha força vital voltar ao
corpo.
Consegui dar um enorme passo hoje, organizando meu guarda
roupa, depois de uma longa conversa com uma amiga muito querida. Foram 5 sacos
enormes de roupa e 15 pares de sapato embora. Isso dá espaço pra respirar, pra
saber onde está cada meia, calcinha, blusinha, calça, enfim. Organizar o guarda
roupas de alguma forma me ajudou a organizar meus pensamentos. Enquanto meu
analista está de férias vou me virando aqui com o guarda roupas rsrsrs.
Por pra fora coisas que não servem mais, deixar espaço pras
coisas novas que tenho gostado de fazer. Não precisava de tantas roupas e
sapatos que eu jamais usaria. E assim é na vida, vamos carregando coisas que
muitas vezes nunca serviram nem servirão pra gente.
Por enquanto é isso minha gente querida! Ainda está meio
tímido e sem estilo, mas com a prática tudo melhora. Então, bora tomar uma água
e um banho quase frio?!
E pra cima da vida! Que o som não pode parar! Pra cima da
vida Toninha, com pressão fia!!!!
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Bem vindos ao Dê Pressão à Vida!
Passando mais de duas vezes por um momento delicado da vida, com depressão e síndrome do pânico, tomei a decisão de manter um blog, contando sobre as crises nesse período, falando um pouco sobre o processo de adoecimento em relação ao trabalho como Agente Comunitária de Saúde. A escrita, acredito, será minha principal forma de luta e resistência contra essa doença. Que aliás, me levou todas as vontades da vida, exceto a escrita. Estou como num poço e a caneta será como uma garra a qual irei me apoiar nas peredes desse poço e subir de volta à vida.
Aqui também colocarei algumas crônicas já escritas por mim. Umas bem humoradas, outras nem tanto. Porque as escrevia direto no facebook e acabavam se perdendo.
Vou recuperar algumas e colocar aqui.
Fiquem à vontade para comentar, discutir, compartilhar, meter o bedelho, enfim...o que tiver que ser. A minha análise pessoal é um grande passo pra chegar onde quero, a medicação também ajudará...Mas creio que partir de mim a decisão de colocar num blog todo esse processo é de extrema importância, pois a caneta é uma das poucas coisas que não me dão medo na vida!
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