sábado, 27 de junho de 2015

Sobre o sábado de aleluia

Não tenho religião, tampouco acredito em nada...nem em mim!
Passei muito tempo, quando criança, temendo e temendo e temendo
Nem sei bem o quê!
Sei que sexta feira santa em casa, não se penteava nem os cabelos
Coisas típicas e cotidianas, como escovar os dentes ou varrer a casa
era como uma profanação
Palavrão então...nem pensar! Sé loco tio (como dizem hoje em dia)
Ninguém podia realizar nenhum ato que não fosse respirar e chorar o dia todo...
eu achava tudo muito triste, mas parecia que tinha que ser assim...
Nunca entendi bem o porquê, nada era explicado, tipo Chicó (auto da compadecida)...só sei que foi assim...
Daí, passava a sexta feira nessa agonia e quando chegava o sábado de aleluia tudo o que eu esperava era me desintegrar...
não queria existir para sentir e saber o que estava me esperando...
Sábado de aleluia! só de escutar me dava um nó! Dava, porque hoje em dia não dá mais.
Sábado de aleluia era o dia da libertação...Mas não da nossa!
Redenção, libertação do pai que passava um dia inteiro sem pronunciar sequer uma palavra em tom mais alto, sem brigar com a gente seja por qual motivo fosse, libertação da raiva contida, talvez por nossa subversiva infância...(porque apesar de todo o pesar da sexta feira, a gente sabia que nada iria nos atingir), ao menos na sexta não!
E nessas do tal sábado de aleluia a gente passava o dia todo apanhando, era de varinha, cinta, chinelo, o que estivesse pela frente...e sem motivo algum!
Simplesmente era anunciado: "vamos tirar a aleluia" e o coro comia!
Sem razão, sem causa! Era assim e pronto e acabou.
Eu sentia medo de passar perto do meu pai nesse dia...
E até me tornar adulta e me deparar com um livro do Mario Vargas Llosa, eu acreditava que meu pai era doido...
Só depois dessa leitura (pantaleão e as visitadoras) é que entendi que não era só meu pai que era maluco...isso existe em outras culturas! Segundo a cultura peruana, no caso do escritor Llosa, essa prática servia à libertar as crianças dos maus espíritos.
Não sei bem o que meu pai queria com isso... Só sei que não era comigo...e se era, sinto muito papai, não funcionou!

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